(por AL relativamente contente)Já referi aqui no comentário a um
post do ABM que a visita do Presidente Guebuza a Portugal me passou (literalmente) ao lado. Não que, comigo, tal coisa seja difícil de acontecer, mas foi assim mesmo. Vejo hoje na página do Facebook do
clube de fãs de Moçambique, que a visita já deu frutos na forma de acordos de cooperação assinados entre os dois países e muito do agrado de todos.Em relação à cooperação portuguesa tenho sempre sentimentos mistos. Quando em reuniões internacionais, as propostas portuguesas eram-me embaraçosas e acolhiam geralmente olhares depreciativos. Embaraço meu devido não tanto aos programas e projectos apresentados, mas sim pela forma como eles eram propostos. As raízes do
luso-tropicalismo parecem calar fundo na nossa alma lusa! Lembro-me de um ‘plano de desenvolvimento nacional’ totalmente elaborado nos gabinetes em Lisboa por ‘técnicos e peritos’ que nem um pé puseram no país que pretendiam ‘desenvolver’ e que o representante da cooperação portuguesa teimava em defender com o argumento que ‘ele gostam de nós e nós entendemo-nos. Não há necessidade de deslocar equipas até cá, nem de fazer consultas, porque nós sabemos o que eles querem’. O plano era de tal forma detalhado que incluía mesmo pormenores de carácter político, tais como a forma de descentralização e composição do governo local, a língua nacional, lei eleitoral, etc!Outro tesourinho deprimente foi uma conferência em Chatham House em Londres, onde o orador português defendia a ‘relação especial’ de Portugal com as suas ex-colónias, tendo mesmo chegado a invocar o tal dito de que Deus fez o branco e preto e o português fez o mulato, para justificar essa relação especial. O
chibalo, o xamboco e outros mimos afins do regime colonial tapados assim pela proezas do macho luso e do ‘somos marinheiros, somos albuquerques’.Mas por outro lado, pondo de lado o discurso luso-tropical, as propostas da cooperação portuguesa pareciam-me bem mais honestas que a maioria. Apresentavam-se nuas, despidas de hipocrisias e chavões (ditos) humanitários; não se escondiam atrás de putativos ideais de desenvolvimento; não invocavam as altas esferas morais que se usam para tapar preconceitos; não disfarçavam o interesse de promover empresários portugueses ( ainda que de dúbia reputação) e as tecnologias portuguesas (sejam elas quais forem). Parecia-me, que a diferença fundamental entre a cooperação portuguesa e a dos outros países residia sobretudo no grau de sofisticação do discurso; na capa de verniz; no menor grau de exigências feitas ao país receptor. O paternalismo condescendente estava ali, sem subterfúgios de cariz moral tão típicos de muitos ditos programas de desenvolvimento ou cooperação. Assim um bocado como a China, só que com menos dinheiro.Neste caso particular, agrada-me que se estreitem os laços entre os dois países; gosto muito de Moçambique e agrada-me pensar que o país e as suas gentes podem beneficiar com estes acordos. Espero que beneficiem com eles!