(por AL virtual) - [caption id="attachment_13104" align="aligncenter" width="575" caption="Foto gentilmente roubada ao co-maschambeiro MVF"][/caption]
Que fazer insone, em Lisboa, às 3 da madrugada?, pergunto-me eu às voltas na cama. Levanto-me e vou até à janela ver o silêncio das ruas. Vou à cozinha, bebo água, agarro nas bolachas e largo-as enfastiada. “Apetecia-me caminhar”, penso e não faço. Vou até ao computador. Ligo-o e ligo-me à internet. Vejo online um amigo igualmente insone. Encontramo-nos. Com a conversa na ponta dos dedos passeamos os dois pela nossa amizade virtual. Finda a cavaqueira desligo o computador e volto para a cama, agradada com o passeio. E enquanto me interrogo: “Como é que se vivia antes da internet?”, chega-me o sono de mansinho e deixo-me dormir consolada. Que a vida é feita de pequenos nadas...
(por AL nepotista) -O nosso maschambeiro fotógrafo MVF e o nosso maschambiano pintor (e contribuinte por procuração) – o
Miguel Barros – juntaram cumplicidade e memórias da Ericeira para partilharem connosco. Eles, melhor que eu, se explicam:
MARESIASPara o Miguel Barros, pintor, e para o Miguel Valle de Figueiredo, fotógrafo, a vontade de fazer uma exposição conjunta não é nova, mas por voltas da vida, só recentemente foi encarada como possível. Questões várias se levantaram, e a primeira delas - a mais importante - prendia-se com a escolha de um tema que fosse comum aos dois amigos e em que as imagens de um e outro fossem de algum modo complementares. E que tema? Goa? Era possível... Ou Índia mais genericamente? Mais complicado mas ainda assim... E Brasil? Mas qual? Lisboa? Talvez um dia...Portugal das pedras antigas ou o quê afinal? Um tema desligado de geografias? Mar, retratos? Afinal a escolha era tão mais fácil quanto óbvia: Ericeira. A Ericeira desta e de outras amizades, das praias e dos mergulhos revigorantes naquele mar bravo e franco, a Ericeira das cumplicidades e de lugares que se conhecem de cor, a Ericeira das mil e uma noites e das manhãs de névoa, a Ericeira que vai mudando com o tempo do mundo e com as vontades dos homens, a Ericeira que trazemos na memória, dos alvos telhados e das rochas nas Furnas, dos gelados da UCAL e dos queques da Gama, do pão quente a horas pouco cristãs lá no Norte depois das danças no “Ouriço”. A Ericeira dos antigos “banheiros” que nos ensinaram que o mar não é para se ter medo mas que temos de o respeitar, das batatas fritas e dos bolinhos quentinhos na Praia do Sul, dos patins em Santa Marta e da esplanada do “Xico”. A Ericeira de tantos outros sítios, de tantas histórias, aventuras e paixões e à qual se volta sempre nem que seja numa conversa.De tudo o que lembramos e de tudo o que se foi e vai transformando, há, no entanto, uma coisa única e imutável, bem conhecida de todos os devotos da Ericeira e que, finalmente, serviu de título a esta mostra:O “cheirinho a maresia”Miguel Valle de FigueiredoLisboa, Julho de 2010Aqui fica o convite para os leitores maschambianos
e mais umas fotos das obras que irão estar expostas – dois olhares e duas artes. Vamos então à Praia do Peixe. Primeiro, com o Barros dos Miguéis....
... e agora com o nosso MVF
(por AL refugiada) - Da varanda do meu refúgio olho para as vidas que na rua se tecem. No rés-do-chão do prédio de esguelha, uma janela aberta, vestida de cortinas de linho com entremeios de renda. Bonitas. Ela, já idosa, vai desfiando as horas do dia a costurar roupa e cansaço no parapeito. Ao fim da tarde junta-se-lhe a amiga. Mais nova, chega a cabo-verdiana ajoujada de sacos e de um dia de trabalho. Pegam-se de conversa. Do lado de dentro relatam-se os dramas diários da rua. "Foi um AVC!", anuncia-se com espanto; "Só um filho e um neto e veja lá a desgraça”, comisera-se; “É uma vida madrasta”, apoia-se. Do lado de fora chegam notícias das Avenidas Novas, das patroas que se prolongam em extensões de cabelos e unhas e se seduzem em carros de luxo. Trocam-se as amigas nos quotidianos e juntam-se nos insultos às vizinhas. Mastronça!, vem gritado lá de dentro; Mastronça!, ecoa gritado do lado de fora, em invectiva apontada a uma janela que permanece fechada. É uma amizade improvável debruada a mexerico e rematada em harmonia racial. Despedem-se: Até amanha!, Até amanha!. E fico eu, sozinha na varanda do meu refúgio, agradeço a serenata dos canários do prédio mais adiante, viro as costas à Rua da Paz e volto ao turbilhão da minha alma.