Segunda-feira, 28.02.11
[caption id="attachment_26326" align="aligncenter" width="249" caption="Imagem daqui:
https://1.bp.blogspot.com/_dqGmIL8C2yA/S_h3rASpPrI/AAAAAAAAABQ/LP2e98naK1c/s1600/dan%C3%A7as+circulares+planeta.jpg"]

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(por AL [ainda] comovidamente estupefacta) -Em Outubro do ano passado postei o texto que se segue no maschamba. Repito-o agora porque estamos em novo processo de divisão (melhor seria dizer multiplicação) de amizades no facebook.Tal como então, também agora me confronto com as mesmas reacções e emoções, pelo que o texto não perdeu pertinência. Faço no entanto algumas actualizações: o
grupo Ma-schamba no facebook conta agora (28 de Fevereiro de 2011 - 00:43) com 4,952 membros; eu conto com 3,520 amigos; "conheci" um primo afastado mas de parentela muito próxima e a página foi entretanto extinta.O título do post na altura era
Amizades Virtuais e rezava assim:O heading do email dizia “partilhar amigos”; vinha de um dos co-maschambeiros. Dizia ele que seria interessante que os subscritores do grupo maschamba tivessem igualmente acesso às nossas páginas individuais do facebook, caso assim o desejassem, pois se davam por vezes aí debates engraçados que não figuravam na página do grupo. Claro!, pensei de imediato e disse que sim, esquecendo por momentos que o
grupo Ma-schamba no facebook conta neste preciso momento (16:12 horas do dia 24 de Outubro) com precisamente 3,969 membros e a
página vai com 1,749 aderentes.Tendo tão prontamente aquiescido, também prontamente começaram a “chover” sugestões de amizade: 100, 150, 200 …. num crescendo de progressão geométrica ao ritmo dos meus cliques nos “add as a friend” . Menos de uma hora depois recebo uma gentil mensagem do pessoal do facebook a dizer-me que tendo eu estado a “utilizar indevidamente” (!!) a aplicação “request friends” ficaria impedida de o fazer durante as 48 horas seguintes, correndo o risco de ser definitivamente barrada do facebook caso insistisse em tal “utilização indevida” (!!). Passada a primeira indignação (como é que eles sabem se é “utilização indevida”?) e a primeira humilhação (mas quem julgam eles que sou eu?) acabo por aceitar que a protecção da nossa privacidade terá o seus custos e decido ficar quieta, determinada a clicar apenas nos “confirm” dos pedidos individuais de quem mos faça.Confesso que tem sido tocante (à falta de adjectivo que melhor expresse a espécie de ternura que me invade a cada pedido) ver a quantidade de pessoas que comigo pretendem amigar-se. Comigo, uma desconhecida, escritora menor de um blog extraordinário, é verdade (e desculpem o auto-elogio mas o maschamba é mesmo bom!), mas para cuja qualidade pouco contribuo. E não se pense que se trata de um pedido de clique e já está. Não senhora, nada disso! Muitos enviam-me pequenas mensagens particulares, dão-me boas vindas mais ou menos públicas; mostram-me pequenos sinais inequívocos de apreço. Não deixo de comover-me com este fenómeno. Lamechas, dirão alguns. Verdade, mas não será isso que tira valor ou genuidade à minha emoção.Dou de repente por mim a conhecer blogs novos, páginas que nem sonhava existirem, a ser convidada para uma multitude de “eventos”, solicitada a apoiar causas diversas, a escutar músicas há muito esquecidas ou até agora ignoradas. Vou neste momento com 1,359 amigos e tenho mais de 800 sugestões ainda pendentes. A todos agradeço aqui. A minha página do facebook está muito mais rica e interessante. Vivam (também) os nossos amigos virtuais.
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Quinta-feira, 24.02.11

Aqui há bastos anos, em amena cavaqueira com um militar de um país em guerra e depois de uma entrevista sincera e cândida sobre guerra, armas e desarmamento, olha-me ele nos olhos e diz-me: Sabe doutora, grande parte dos nossos problemas foram criados por vocês.O “vocês” neste caso era eu como representante da putativa comunidade internacional de auxílio ao desenvolvimento. Como assim? pergunto eu ainda que bem ciente dos males das “boas intenções” e das hipocrisias das políticas internacionais.Sabe, continua ele em ar meditativo, vêm vocês para aqui com as vossas Unicefes e as vossas vacinas, baixam-nos a mortalidade infantil, acodem-nos nas calamidades naturais, financiam-nos escolas básicas e iludem os nossos jovens com o futuro melhor que a educação lhes vai dar. Mas depois, não nos ajudam mais. Aos 14, 15 anos eles saem da escola e já não querem trabalhar com os pais, não querem trabalhar a terra; querem um emprego, com gabinete e secretária e nós não temos estrutura para os absorver. Dantes tínhamos as nossas calamidades que nos regulavam a população, vocês agora dão vida a todos e depois largam-nos nas nossas mãos. Temos jovens e jovens e jovens, mal preparados e poucos homens para trabalhar, para pagar impostos, para contribuir para o Estado. Vocês passam o problema para nós e depois ainda se queixam que nós isto e nós aquilo.Consigo parar a tempo o insulto perante o cinismo e hesito – digo, não digo, digo, não digo. Lanço rapidamente um pensamento ao básico das conversas difíceis (conversa do “eu”; positivo, negativo, negativo, positivo) e digo: Senhor General, vai-me desculpar a franqueza, mas concordo em parte consigo e noutras discordo absolutamente. Discordo absolutamente quando se queixa das vacinas e das calamidades porque EU acho humanamente insustentável que se deixem morrer pessoas, ou ficarem marcadas para a vida, devido a doenças preveníveis ou tratáveis, ou porque não usamos os meios que temos para as salvar. Depois, porque (despersonaliza, penso eu, despersonaliza) foram os últimos trinta anos de guerra que mataram a geração que devia agora estar a produzir e a pagar impostos, foi a guerra que destruiu sistematicamente toda e qualquer estrutura que vos pudesse ajudar a construir um país próspero e finalmente porque o Estado tem outras fontes de rendimento muito superiores aos impostos que possam vir a cobrar. Tendo dito isto, simpatizo com os problemas que enfrentam com a comunidade internacional, mas ela é o que é e embora não seja fácil gerir os seus variados interesses, exigências e caprichos, EU acredito na vossa capacidade para o conseguirem fazer.Olhou para mim fixamente, desviou os olhos, rodou a cadeira para o lado, contraiu os maxilares, (pensei estou feita!), suspirou, rodou a cadeira de frente para mim, olhou-me novamente, (pensei outra vez estou feita!, tento lembrar-me se alguém saberia onde eu estava) e diz-me: Bem que me tinham avisado! Bem que me disseram que a doutora nos dizia coisas que mais ninguém tinha coragem para nos dizer assim cara a cara. Diga-me, não tem medo?Eu? Medo? Eu que estava petrificada, o que de certa forma deu jeito, convenhamos, pois mantive-me direita e impávida na cadeira onde me encontrava. (Fase dois da conversa difícil: "eu" e personaliza).Senhor General, EU penso que sem medo não há coragem. O Senhor General combateu uma guerra, penso que certamente terá também tido medo nalgumas ocasiões. Mas continuou porque acreditou. As minhas armas são a franqueza e as palavras, porque eu acredito que a vida das pessoas pode melhorar e aqui quem a pode melhorar são os senhores. E digo o que digo porque sou vossa amiga e os amigos também servem para nos dizer o que nos custa ouvir. EU só posso falar; são os senhores quem pode agir.Levantou-se, aproximou-se de mim. Eu, ainda petrificada, encolhi-me interiormente mas mantive a (com)postura, pôs-me uma mão no ombro, estendeu-me a outra e disse-me: tem todo o meu respeito. Tem carta branca para ir onde quiser e qualquer problema que tenha enquanto por aqui andar ligue-me. Está sob a minha protecção.Apertámos a mão, saí do gabinete. Fui direita à casa de banho e bolsei-me toda, coberta em suores. Livrei-me da bílis da minha cobardia e dos insultos calados. Demorei alguns segundos até me recompor nas pernas e saí do ministério de cabeça caída e coração apertado. Vendi-me?, perguntava-me.Esta conversa não me tem saído da cabeça nos últimos dias por uma estranha associação com as revoltas a que temos assistido e com as deolindas locais. Remetem-me para as pirâmides demográficas. Onde todos parecem ver motivos políticos e religiosos, eu não consigo deixar de ver também um conflito geracional. A pirâmide demográfica do país do meu General é quase igual à do Egipto, do Bahrain e da Líbia (para só nomear estes três países), que apresentam aquilo a que os ingleses chamam um pronunciado “
youth bulge”. Tal como nestes três países, também o regime do país do meu General tem sobrevivido devido à complacência internacional em aceitar o inaceitável sob a capa dos recursos ou das seguranças estratégicas. Tal como nestes três países também os jovens do país do meu General começam a dar um ar da sua graça. Discretamente ainda – um incêndio aqui, uns graffitis ali, um ligeiro aumento de decibéis na voz do descontentamento. Algo me diz que também o país do meu General é uma das peças na fila de dominós que em cadeia se derrubam.O meu discurso foi bonito, a promessa do General cumpriu-se e nunca tive problemas nesse país. Perante os ditadores hoje caídos vemos agora criticamente espalhados por todo o lado os apertos de mão, os banquetes, as palmadinhas nas costas que os representantes das nossas democracias não se coibiram de distribuir. Recuperam-se discursos e negociatas. E eu continuo a interrogar-me. Vendi-me?, pergunto-me eu ainda hoje. Infelizmente, acho que sim. Sob a capa do meu medo, da minha arrogância em querer motivar acção e das minhas (boas) intenções também eu me vendi. Sou tão cúmplice como os outros; também eu, por inércia, por medo ou por tacitez, contribuí para que se aceitasse o inaceitável e aqui confesso que também eu apertei a mão ao diabo.AL
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Quarta-feira, 23.02.11
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Sábado, 19.02.11
AL

Marraquexe, Dezembro de 2010
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Sexta-feira, 18.02.11

(AL)E não, não tem a ver com a idade, nem com o crescimento dos filhos, nem com as dores nas juntas (a essas não lhes dou importância). Acho que estou a envelhecer porque cada dia me parecer mais que o mundo faz menos sentido. E isto, acho eu, é talvez o primeiro sinal de envelhecimento – quando o mundo começa a deixar de fazer sentido.Vem este meu comentário a propósito de duas ou três coisas com que hoje me deparei. A primeira foi uma
petição contra a exclusão da religião cristã na agenda anual da União Europeia. Segundo os autores da petição, a dita agenda menciona as datas religiosas de todas – ou quase todas – religiões, excepto a cristã, tendo mesmo deixado de fora o Natal. Não interessa para o caso se professo ou não uma outra religião; a minha fé, se tiver que ter uma, será a da liberdade de cada um poder escolher aquilo em que quer acreditar e dos outros respeitarem essa escolha. Este “mea culpa” europeu cada vez me confunde mais. Será que só respeito a cultura/religião dos outros se desvalorizar e penalizar a minha?Em Dezembro passado abundavam nos Estados Unidos os debates sobre o desejar Merry Holidays em vez de Merry Christmas “por respeito para com outras religiões”. Se vamos deixar de dizer Feliz Natal, iremos também exigir que, por exemplo, os judeus deixem de dizer Feliz Hannukah? Exigir que se diga jejum em vez de Quaresma ou de Ramadão? Onde acaba o respeito e começa a patetice?Ainda não estava eu refeita desta, surge-me a notícia do ultraje público criado na China por causa de um
truque realizado com peixinhos vermelhos. Aparentemente, o programa da TV oficial sobre as celebrações do novo ano lunar incluiu um ilusionista (?) com uma exibição de “natação sincronizada” com peixinhos vermelhos. Parece que suspeitam que o ilusionista usa magnetes para fazer o truque. E sabe-se lá o mal que estes magnetes podem fazer aos pobres dos peixinhos. E lá temos os activistas chineses dos direitos dos animais a criarem uma onda mundial de solidariedade. Não me interpretem mal, sou por princípio contra a crueldade. Mas peixinhos vermelhos? Num país onde se executam publicamente criminosos com um tiro na cabeça e se cobra à família o preço da bala; num país onde existem gaiolas com cães, gatos e outros animais vivos à porta dos restaurantes, para que o freguês escolha o seu petisco; num país onde se deitam fora meninas porque as famílias querem um filho varão e não podem ter mais que um descendente; num país onde se “re-educam” opositores ao regime – e isto só para dar poucos exemplos – as vozes só se levantam por causa dos peixinhos vermelhos? Peixinhos vermelhos?Por cá, vão-se
proibindo os animais nos circos e querem
acabar com as touradas. A mim custa-me a acreditar que um domador que entra numa jaula de leões maltrate estes animais. E sim, admiro a coragem dos forcados e a beleza do toureio a cavalo.Será que qualquer dia irão proibir os matadouros e dar-nos cabo do direito de comermos um bom bife, arrasar-nos os chouriços e banir os sapatos e os cintos de cabedal? E a seda – fibra oriuna da exploração de pequenas larvas indefesas? E a lã que nos aquece e é vilmente retirada das ovelhinhas tão queridas? E o queijo de ovelha ou de cabra? E os camarões e os peixinhos do mar, mortos cruelmente por asfixia para adornarem as brasas do nosso deleite? E os mosquitos?Mas abandonam-se diariamente dezenas de animais e os canis e outras instituições que os recolhem lutam com falta de fundos para os manterem e vêem-se forçados a abatê-los. Sou animal e predadora – cúmplice do abate de animais para me alimentar e sobreviver (não, uma dieta vegetariana para mim não é consolo, lamento). Aprendo no dia a dia a viver com esta realidade da minha incongruência do respeito pela vida que professo e da gula que me guia.Ah! E sim, é um post etnocêntrico e umbiguista, mas é meu. Mas peixinhos vermelhos?
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