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maschamba



Sábado, 30.04.11

Carta de amor a mim, à minha vida e ao “outro mim” (re-edição)

[caption id="attachment_27531" align="aligncenter" width="594" caption="Fotografia de Miguel Barros"][/caption]Estreei-me no Ma-schamba em Novembro de 2009 com uma fotografia do meu amigo Miguel Barros, Africanista recente mas já viciado e com um texto que hoje deixo novamente aqui. Despertou-me a memória vívida de um fim de tarde mágico em Benguerua, sentada na areia ainda morna da praia à espera do dhow que nos vinha buscar. Eram assim as cores do nosso céu de então; o ar doce e manso, o mar adormecido em efeitos de seda. Deitados na proa do dhow, cruzámos a baía embalados pelo arrufo da água no casco, só quebrado pela conversa do vento com as velas. O matiz de cores foi-se esbatendo para dar lugar à luz ocre da lua que nascia. Lá à frente, a Ponta de S Sebastião, ao nosso lado deslizou Magaruque; cresciam os coqueiros que bordam Vilankulos. Tempo e espaço cristalizados num momento perfeito que nada se atrevia a perturbar. Já perto da vila começaram os tan-tans dos pescadores, a pastorearem o peixe para o redil dos baixios, onde a maré vazia os deixaria encurralados e presa fácil. Da margem, o ocasional ulular de uma mulher. Acostámos em frente à casa, numa magia de verbo sufocado e palavras supérfluas.Cheia de saudades e repleta de nostalgia aqui deixo esta carta de amor, ridícula como se querem as cartas de amor. A mim, à minha vida, à vida minha.AL

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por AL às 02:33

Sexta-feira, 29.04.11

Da origem das palavras (re-edição) ou Post-socorro *

Na outra encarnação do Ma-schamba fiz um post-socorro em que pedia aos leitores se haveria alguém que me elucidasse sobre a origem de uma palavra portuguesa encontrada durante uma das minhas viagens. Nesse post-socorro falava tambem de um jogo muito popular em todo o mundo. Tive imensas respostas sobre o jogo e sobre os diferentes nomes a ele atribuídos, mas a minha pergunta ficou sem resposta. Por isso aqui fica a re-edição.Andei aqui há uns anos pelo Mali, país absolutamente mágico e de gentes afáveis e hospitaleiras. Viajei pelas suas diferentes regiões e, claro, pelo País Dogon, que parece quase um museu vivo etnográfico. Apetece-se ficar por lá, escondido do tempo. Todas as aldeias que visitei apresentavam, num local mais ou menos central, uma estrutura construída por grandes lajes sobrepostas que a elevam do chão e com uma cobertura espessa de ramos e palha assente em pilares de pedras empilhadas. Estas estruturas são o ponto fulcral das aldeias. É lá que geralmente se encontra o chefe da aldeia; é lá que os homens se reúnem para conversar, jogar, debater questões relevantes para a comunidade e aconselhar-se com os mais idosos ou com o chefe da aldeia. Há-as simples e há as pesadamente ornamentados. As mulheres têm as suas casas próprias de que falarei num outro post aqui na maschamba.[caption id="attachment_27520" align="aligncenter" width="664" caption="Toguna muito simples"][/caption][caption id="attachment_27521" align="aligncenter" width="737" caption="Toguna ricamente ornamentada"][/caption]É um local muito aprazível. O chão de laje, amaciado por anos de uso, é fresco e convidativo. Geralmente, uma das lajes tem as cavidades necessárias para se jogar o que na Ásia se chama mancala, tchuva em Moçambique e oril em Cabo Verde. Trata-se de um jogo que já vi jogar (e joguei) em diversas partes do mundo; umas vezes com tábua própria, outras vezes com simples covinhas feitas no chão, que vão sendo enchidas e esvaziadas de pedrinhas, conchas, sementes… As regras variam de sítio para sítio, mas o objectivo geralmente é “comer” as peças do adversário.[caption id="attachment_27523" align="aligncenter" width="829" caption="mancala, tschuva ou oril"][/caption]A cobertura da estrutura é geralmente muito espessa e protege do sol e do calor; a ausência de paredes permite uma ventilação desimpedida; o pé direito destas estruturas é pouco mais de 1 metro. Pensei que fazia sentido, pois o tecto baixo impedia a incidência dos raios solares, proporcionando uma sombra maior. Até que um dos velhos numa aldeia me explicou educadamente que não teria sido isso que se tinha em mente. Disse-me ele não ser este um espaço para pressas, para um entra e sai desarvorado. Ter que entrar agachado e permanecer sentado lembra a quem chega que ali se fala, mas também se ouve. E com tempo! Mais ainda, sendo a estrutura um espaço de debate para questões importantes da aldeia e sendo a natureza humana aquilo que é, espera-se que durante esses debates os ânimos se exaltem. E, pessoas exaltadas tendem a levantar-se e a gesticular. Sempre que tal acontece o exaltado bate invariavelmente com a cabeça no tecto, acalmando assim de imediato os ânimos. Nada de dizer bojardas e sair porta fora, não senhor!Agora vem a parte que mais me espantou. O nome destas estruturas é toguna ou casa-palavra. Assim, tal e qual, no mais puro português. Nome que nem sequer sofria de qualquer abastardamento da pronúncia francesa, língua oficial do Mali. Nada de cásá-pálavrá, mas sim cása-palávra com a fonética portuguesa toda no sítio devido. Intriguei-me, perguntei de onde viria tal nome e ninguém me soube dizer. Nem no Museu Nacional em Bamako consegui encontrar explicação. Já “googlei” o nome e nada! Será que algum dos leitores do maschamba me consegue esclarecer?* texto postado originalmente em 9 de Novembro de 2009AL

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por AL às 00:50

Quinta-feira, 28.04.11

O Amor Antigo

[caption id="attachment_27512" align="aligncenter" width="457" caption="Fotografia de Michael V Manalo"][/caption]
O amor antigo vive de si mesmo,não de cultivo alheio ou de presença.Nada exige nem pede. Nada espera,mas do destino vão nega a sentença.O amor antigo tem raízes fundas,feitas de sofrimento e de beleza.Por aquelas mergulha no infinito,e por estas suplanta a natureza.Se em toda a parte o tempo desmoronaaquilo que foi grande e deslumbrante,o antigo amor, porém, nunca fenecee a cada dia surge mais amante.Mais ardente, mas pobre de esperança.Mais triste? Não. Ele venceu a dor,e resplandece no seu canto obscuro,tanto mais velho quanto mais amor.
Carlos Drummond de AndradeAL (para DM)

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por AL às 02:52

Terça-feira, 26.04.11

Eleições em Portugal

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por AL às 19:20

Terça-feira, 26.04.11

Vem aí

Dia 3 de Junho no Coliseu dos Recreios em Lisboa. Apressem-se que os bilhetes estão quase esgotados e a festa promote. ">JIGndfywArwAL

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por AL às 02:30

Segunda-feira, 25.04.11

Saneamento

Um manifesto postado aqui há tempos pelo JPT remeteu-me para um outro fotografado por mim perto da Beira e que aqui vos deixo.

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por AL às 05:51

Domingo, 24.04.11

Tempestades (re-edição)*

[caption id="attachment_27426" align="aligncenter" width="578" caption="Foto de Mitch Dobrowner aqui: http://www.mitchdobrowner.com/index.html"][/caption]A minha casa em Maputo (flat) ficava num sexto andar que, por causa do desnível da rua, seria um oitavo em qualquer outro sítio. À  nossa frente as casas eram todas vivendas baixas e a casa tinha uma vista maravilhosa sobre a baía de Maputo, com os Pequenos Libombos a rematarem nas montanhas mais altas da Swazilândia e da África do Sul. Resquícios finais das Drakensberg, estas. Do outro lado do rio viam-se ainda os mangais da Catembe e o sempre dramático cemitério de navios que expunha os esqueletos na maré baixo. Do lado direito da Baia desaguavam o Matola, o Tembe e o Umbeluzi numa orgia de sedimentos. A vista da varanda da sala era sempre uma alegria para os olhos. E era exactamente por este lado da cidade que se aproximavam as fantásticas tempestades tropicais da época das chuvas. Desciam as Drankensberg (chamemos-lhes assim), saltavam os Libombos e desaguavam na cidade com toda a fúria. Geralmente de madrugada; ocasionalmente ao por do sol.Na minha casa em Maputo, todos os dias de madrugada ouvia o muezzin da mesquita da Baixa da cidade; todos os dias acordava embalada pelo seu canto. Eram despertares lentos e maravilhosos, por vezes seguidos de mais umas horas de sono profundo. Mas se por entre as pálpebras semi-cerradas percebia um clarão, lá ia eu a correr para a varanda para saudar a tempestade que se aproximava. Por vezes vinha ainda tão longe que nem os trovões se ouviam; viam-se meros clarões no horizonte, como se de um farol costeiro se tratasse. Lentamente desenhavam-se nuvens gordas, prenhas de chuva; apanhavam balanço a descer as Drakensberg e vinham numa correria louca, a cuspir relâmpagos e a atroarem os ares anunciando a sua chegada. Eram tempestades verdadeiramente dramáticas. E eu, sentada na varanda, saudava-as sempre com emoção. Os relâmpagos destas tempestades são como eu nunca vi noutro lugar. São cordas enormes de luz que saltam em todas as direcções. Muitos caem no chão e por vezes parecem uma cortina de fitas. Os trovões são tão retumbantes que tremem paredes e vidros.Perdi num dos muitos computadores que me roubaram as fotografias que tinha da baia de Maputo vista da minha varanda. Mas no youtube consegui encontrar o canto do muezzin que aqui vos deixo.Ezan Call to prayer 1AL* post originalmente publicado em 8 de Outubro de 2010

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por AL às 02:17

Sábado, 23.04.11

Blind date 1, tesourinho deprimente ou um post de “gaija” no maschamba

[caption id="attachment_27415" align="aligncenter" width="550" caption="Ilustracao de Jeannie Lynn Paske"][/caption]O meu namorado tem um amigo que era óptimo para ti, dizia-me a L, pouco convencida com a satisfação anexada ao meu estado de solteira. E se eu te marcasse um blind date?  Corriam os anos 80 e da internet não havia ainda nem rumores. Blind dates conhecia-as eu dos filmes e séries americanas. Mas adensava-se já em mim o desassossego de errância que me iria orientar os 20 anos seguintes e fazer-me lançar em estreias impensadas. E esta parecia mesmo vinda de Hollywood.O encontro ficou marcado para o fim da tarde num bar lindo junto ao Bairro Alto, com mesa marcada para o restaurante da berra na época. Noite chuvosa, fria e desagradável; roupa chique e sexy, mas sem demasiada ousadia. Do moço apenas sabia a alcunha que decidi recusar-me a utilizar por reivindicar uma intimidade inexistente. Chego com algum atraso como mandava o recato e vejo sentado ao balcão um homem desfocado, desbotado a preto e branco. Nem tinha sequer uma patine de sépia que lhe desse um laivo de distinção ou uma pincelada de interesse. Percebi logo o erro que tinha sido e o pesadelo de blind date que me esperava. Pensei: estou perdida!Dirijo-me a ele, sorrio, estendo a mão e digo: Olá, sou a Ana. Qual é mesmo a tua graça?, perguntei eu pensando na alcunha para mim indizível. Bem, hesita ele encarnado em Calimero e sem qualquer laivo de ironia, humor, ou alegria - eu acho que graça não tenho mesmo nenhuma. Sem dar tempo a que a estupefacção assentasse retorqui: pois graça não terás, mas não deixas de ter razão; desculpa, isto foi um erro. Virei as costas e saí estupefacta então eu pela crueldade irreflectida e perdido ele num termo desconhecido.AL

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por AL às 03:36

Sexta-feira, 22.04.11

Vidas passadas

De um amor morto ficaUm pesado tempo quotidianoOnde os gestos se esbarramAo longo do anoDe um amor morto não ficaNenhuma memóriaO passado se rendeO presente o devoraE os navios do tempoAgudos e lentosO levam emboraPois um amor morto não deixaEm nós seu retratoDe infinita demoraÉ apenas um factoQue a eternidade ignora
Sophia de Mello Breyner Andresen, in "Geografia"AL

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por AL às 03:40

Quinta-feira, 21.04.11

Uma Páscoa memorável

Em cima da mesa um enorme bolo de chocolate. Pratos, garfos, copos e a minha habitual garrafa de chá verde juntavam-se a bebidas sortidas, malgas diversas com água, uma imensidão de pincéis de espessuras diferentes, três ou quatro caixas de aguarelas coloridas, tubos de guache, dois rolos de papel absorvente, duas dúzias ou mais de ovos antecipadamente vazios, lavados e secos.À roda da mesa um grupo de amigos em amena cavaqueira e concentração na pintura dos respectivos ovos, palpitando sobre a paleta de sabores a incluir na omeleta que iria fechar o dia.Pela janela entravam as ladainhas cantadas na Catedral de Dili, mesmo em frente de minha casa, pontuadas pelo toar triste dos sinos e sinetas – era Sexta-Feira Santa afinal.O resultado foi este (bem, havia mais, mas estes foram os melhores).O mais votado foi este.AL

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por AL às 21:47

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