Terça-feira, 28.06.11

Pensei que me tinha saído a sorte grande, em grande! Primeiro fizeram-me o upgrade para business e depois sentam-me ao lado de um homem lindo. Alto, louro, olho azul, tudo nos trinques, qb. E simpático, também; ainda não tínhamos levantado voo e já tínhamos começado na amena cavaqueira que nos trouxe até Lisboa. Disse-me que estava a viver há uns tempos em Portugal, gostava, mas não sabia ainda quanto tempo mais ia ficar. Perto do Natal, falámos das tradições dos respectivos países. As atenções das hospedeiras e os olhares do restantes passageiros deveriam ter-me alertado, mas com tanta beleza acreditei qualquer olhar justificado. Não liguei. Aterrámos e despede-se de mim – vêm buscar-me à porta, explica com um sorriso meio tímido, meio divertido. O CEO de alguma empresa, pensei.Saímos nós depois, recolhi as bagagens. No átrio das chegadas uma imensa confusão de gente, fotógrafos, câmaras, aparatos de VIP. No meio de todo um entourage vislumbrei o cabelo louro do meu companheiro de viagem. Foi então que caí em mim – tinha vindo em amena cavaqueira com uma celebridade. Mas quem?, meu Deus, quem? Percorri todos os filmes de que me consegui lembrar, séries de televisão, bandas e músicos. Desconsegui.Fui iluminada na segunda-feira seguinte mal chego ao escritório. Em cima da mesa do segurança um jornal; a primeira página ocupada com o sorriso do meu companheiro de viagem. O jornal era A Bola e ele, afinal, o Mats Magnusson!AL
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Sábado, 25.06.11
"> "> Assisti uma vez ao arriar da bandeira portuguesa para dar lugar à bandeira de uma nação que nascia. Foi em Timor Leste, em 20 Maio de 2002 e a emoção da cerimónia perdura ainda em mim. Arriou-se a nossa bandeira como um antepassado que parte, deixando a outros o seu legado. Lá longe e estrangeira, invadiu-me uma doce nostalgia por este país – o meu – tão pequeno e tão mal amado. Tocou o nosso hino e, também eu, sim, num nacionalismo bacoco, verti uma lágrima, indiferente ao belicismo da letra. Mas ver hastear a bandeira de uma nação que naquele momento (formalmente) nascia comoveu-me ainda mais, numa enorme alegria de esperança e num sentido de renascer difícil de articular. Multiplicou-se então a minha lágrima em mil.Era ainda miúda quando Moçambique celebrou a sua independência, mas hoje ao ver estas imagens sinto exactamente o que senti em Dili naquele dia de Maio e marejam-me os olhos com igual emoção. Historicamente unidos, soberanamente diferentes e pares em igualdade. Finalmente!AL
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Sábado, 25.06.11
[caption id="attachment_28790" align="aligncenter" width="600" caption="Foto de Weichuan Liu"]

[/caption]É independente, profissional, livre, emancipada, responsável, vive a vida como pode e como quer. É bonita, alegre, desbocada e divertida – não passa facilmente despercebida. Teve a pouca sorte de se cruzar com um psicopata que não aceita um não como resposta. Invadiu-lhe o telefone, o email, a internet; violou-lhe as fotos, as amizades, a privacidade. Na era da comunicação baralhou-lhe as linhas e cortou-lhe os laços que a ligam a família e amigos. Está refém de um macho frouxo que alimenta a sua masculinidade no preconceito e de uma polícia incapaz de o conter a ele e de a proteger a ela. Por isso lhe deixo aqui este meu recado. Porque hoje foi ela mas, sei-o agora, podia ser qualquer um de nós.Estamos juntas!AL
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Terça-feira, 21.06.11
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De que são feitos os dias?- De pequenos desejos,vagarosas saudades,silenciosas lembranças.Entre mágoas sombrias,momentâneos lampejos:vagas felicidades,inatuais esperanças.De loucuras, de crimes,de pecados, de glórias- do medo que encadeiatodas essas mudanças.Dentro deles vivemos,dentro deles choramos,em duros desenlacese em sinistras alianças...Cecilia Meireles
AL
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Domingo, 19.06.11
[caption id="attachment_28650" align="aligncenter" width="500" caption="Gravura de Alessandro Gottardo"]

[/caption]Um breve, muito breve, olhar pela blogosfera que se agita, pelos comentos dos murais do Facebook e pela imprensa nacional mostram-me críticas, apoios, dúvidas e insinuações sobre as diferentes personalidades à mistura com cegueiras ideológicas: não pode prestar porque é de direira ou então é muito bom exactamente por isso; é inexperiente? Não vai conseguir fazer nada ou por isso mesmo é que vai fazer bem; não é da área? Não sabe nada ou vai trazer um ar fresco aos problemas. Depois temos os teóricos da conspiração – maçónica, do imperialismo americano (ainda?), europeia (ah os malvados dos alemães), ou das grandes corporações, coadjuvados pelos histéricos do mau perder que apelam à agitação social como estratégia eficaz de resolução dos problemas económicos que nos afligem. Pois! Engraçados os biqueiranços entre os apontadores de dedos: quando-lá-estavam-os-da-tua-cor-calaste versus já-te-estás-a-alinhar-a-pores-te-a-jeito. Comum a todos a mentalidadezinha da dança das cadeiras, das corporações instituídas a cerrarem fileiras; sinto que já se vai juntando lama para o arremesso e lenha para alimentar as piras E eu? Eu para já felicito os membros do governo novo pela coragem de assim se lançarem às feras e a tão ingrata tarefa; aguardo com mente aberta o que deles virá. Mas algo me diz, perante o que tenho lido, que vamos continuar a ser um país de indigentes. A todos os níveis. Porque quem está não quer mudar e quem quer mudar não consegue estar.AL
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Sexta-feira, 10.06.11

- Fotografia de Miguel Valle de Figueiredo
Jurando de não Mais em Outra Ver-meComo quando do mar tempestuosoO marinheiro todo trabalhado,De um naufrágio cruel saindo a nado,Só de ouvir falar nele está medroso;Firme jura que o vê-lo bonançosoDo seu lar o não tire sossegado;Mas esquecido já do horror passado,Dele a fiar se torna cobiçoso;Assi, Senhora, eu que da tormentaDe vossa vista fujo, por salvar-me,Jurando de não mais em outra ver-me;Com a alma que de vós nunca se ausenta,Me torno, por cobiça de ganhar-me,Onde estive tão perto de perder-me.
Luís Vaz de Camões, in "Sonetos"AL
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