Ainda não tinha posto os dois pés no chão e já me anunciava:
Quero ir a uma tourada. Quis ir cedo para o Campo Pequeno (
to see the whole show) e como é hábito meteu conversa com toda a gente no seu português arrevezado, aprendido nas ruas de um país africano:
Olha pá, como fazes para ficar os cavalos tão quietos, com esta pressão toda que vai pelo ar? Mal refeito da surpresa da interpelação e do sotaque responde o tratador enquanto penteia as crinas – Atão? Atão eles já sabeim – apanham! Se se portam mali apanham!
Apanham? pergunta-me com aquele ar confundido de quem não domina ainda a língua. Sorrio, penso amanha-te, sorrio e deixo-os acertarem-se no diálogo.Adorou tudo e não se calava:
Já reparaste que a tourada deve ser o único espectáculo em que um homem pode vestir meias cor de rosa, usar ballerinas, ter um traje cheio de brilhantes e um rabo de cavalo com lacinho e ninguém ousa duvidar da sua masculinidade? It is a macho display in an orgy of homo-erotica! Entre uma verónica e uma chicuelina falamos de Hemingway, fomos aos lembras-te e passámos nos e-quandos. Passou-se com os forcados. Quando lhe expliquei que a pega estava a ser difícil porque o touro não prestava, era manso, olha para mim e diz com admiração:
you people, you Portuguese are crazy!Quando o Zé Castelo Branco, sentado ali mesmo ao nosso lado, atirou cheio de meneios de pescoço e cabelo, todo ele a tilintar pulseiras, a sua echarpe de seda com print de leopardo ao cavaleiro másculo mas charmoso que dava a volta à praça, confessa num murmúrio:
This got to be the campiest moment of my life! Brilham-lhe os olhos de alegria, olha para mim e repete:
you Portuguese, you are crazy! É bom ter visitas de fora.






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