
Foi o meu amigo
Giovanni Diffidenti, na altura ainda fotógrafo de guerra, quem primeiro me falou da
S-21 e do impacto que nele teve quando pela primeira vez lá entrou pouco depois da queda dos
Khmer Rouge. Actualmente um
museu, foi centro de detenção e tortura do
regime de Pol Pot. Dos cerca de 30.000 detidos não sobreviveu mais que uma meia dúzia. Quando em 1979 os Khmer Rouge fugiram do exército vietnamita, apesar do fogo ateado na tentativa de apagar os rastos burocráticos do genocídio aí perpetrado, sobreviveram na S-21 cerca de
6000 fotografias a preto e branco, semi-queimadas algumas, rasgadas outras. Empilhadas em gavetas, espalhadas pelo chão, juntas por um elástico. Homens esquálidos, mulheres com bébés de colo, crianças, casais, idosos, famílias inteiras num último registo fotográfico perante a morte. Muitos com sinais visíveis de tortura; todos com o medo e o sofrimento estampados no rosto e de identidade apagada num número. Da sua existência nada mais resta senão estas imagens, legados pungentes do inaceitável.Dos muitos
livros, documentos e
testemunhos que hoje abundam sobre a S-21 gosto particularmente de
Binh Danh, jovem fotógrafo cambojano-vietnamita cujo trabalho explora a “
mortalidade, memória, história, paisagem, justiça, evidência e espiritualidade”. Binh Danh imprime em
folhas vivas estes retratos da morte.

Hoje é o dia 10 de Outubro e assinala-se o
Dia Mundial contra a Pena de Morte. Assinalo-o eu aqui com estes mortos sem sentença, mortalha ou nome. Invocados na vida de uma folha e falados na palavra de um jovem poeta português.#Ah, finalmente o sonoa estranha morteo chão desconfiado rente ao corpoum lençol de linho à minha sorte.#
Joaquim E. OliveiraAL
[caption id="attachment_31485" align="aligncenter" width="545" caption="Fotografia daqui:
http://12b.iksv.org/en/sololar.asp?id=53&c=4&show=gorsel&photo_no=1"]

[/caption]Amiga libanesa ocasionalmente a viver em Amã falou-me dela aqui há uns anos, num domingo chuvoso passado na Tate Modern. Falou-me da forma interessante como a jovem artista recriava aspectos políticos do mundo árabe – fotografia, vídeo, desenho. Pouco sabia dela, mas ficara-lhe o desconforto e a estranheza de uma exposição que dela vira em Amã. O nome, para ser franca, nem me ficou na memória mas hoje li-o e associei-o à minha amiga e à tarde que passámos juntas:
Ala Younis. Deparei-me por acaso com ela num
artigo que li na internet.Younis expõe uma instalação na
Bienal de Istambul 2011, chamada
Tin Soldiers. Consiste de soldadinhos de chumbo que proporcionalmente recriam os exércitos envolvidos em actos de guerra no Médio Oriente em 2010: Egipto, Irão, Iraque, Israel, Jordânia, Líbano, Síria e Turquia. Ler mais sobre ela e sobre a instalação
aqui e
aqui.AL