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maschamba



Sábado, 24.03.12

Geografias

 

 Estou mais perto de ti porque te amo.Os meus beijos nascem já na tua boca.Não poderei escrever teu nome com palavras.Tu estás em toda a parte e enlouqueces-me.Canto os teus olhos mas não sei do teu rosto.Quero a tua boca aberta em minha boca.E amo-te como se nunca te tivesse amadoporque tu estás em mim mas ausente de mim.Nesta noite sei apenas dos teus gestose procuro o teu corpo para além dos meus dedos.Trago as mãos distantes do teu peito.Sim, tu estás em toda a parte. Em toda a parte.Tão por dentro de mim. Tão ausente de mim.E eu estou perto de ti porque te amo.
Joaquim Pessoa, in 'Os Olhos de Isa'AL

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por AL às 07:44

Sábado, 24.03.12

Acto de fé

 

AL

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por AL às 01:14

Sexta-feira, 23.03.12

Maniphesto

 

AL

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por AL às 23:50

Quarta-feira, 14.03.12

Ausência

Por muito tempo achei que a ausência é falta.E lastimava, ignorante, a falta.Hoje não a lastimo.Não há falta na ausência.A ausência é um estar em mim.E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,que rio e danço e invento exclamações alegres,porque a ausência, essa ausência assimilada,ninguém a rouba mais de mim.
Carlos Drummond de Andrade in 'O Corpo'AL

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por AL às 12:43

Terça-feira, 13.03.12

Quarto com vista

Hoje meti-me novamente na calçada da memória e deambulei pela cidade e arredores – da Costa do Sol à Matola. Sendo eu a condutora não me sobraram mãos para a máquina. Terminei o dia em casa amiga a beberricar côco-lenho e aí sim tive oportunidade de tirar uma chapas para botar no ma-schamba. Aqui ficam.[caption id="attachment_33713" align="aligncenter" width="664" caption="Vista parcial da baia (e sobre a Engels)"][/caption][caption id="attachment_33716" align="aligncenter" width="664" caption="Nyerere e ao fundo o centro comercial da 24 de Julho (Hotel Avenida em primeiro plano)"][/caption][caption id="attachment_33715" align="aligncenter" width="664" caption="Cruzamento Mondlane/Nyerere"][/caption][caption id="attachment_33717" align="aligncenter" width="664" caption="Ao fundo, cupula da Igreja de St Antonio da Polana"][/caption][caption id="attachment_33712" align="aligncenter" width="664" caption="Coco-lenho (hmmmm)"][/caption]AL 

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por AL às 21:59

Segunda-feira, 12.03.12

Sorte madrasta

[caption id="attachment_33704" align="aligncenter" width="400" caption="Stolen Summer por Robert e Shana Parkeharrison"][/caption]É jovem ainda. Tem mulher e um filho com 3 anos. Confiou o seu ganha-pão a uma tschopela que fraco rendimento gera. Ando a estudar para técnico desenhador, diz-me, mas este ano não tive dinheiro para pagar a matrícula, lamenta sem amargura. Com a resignação de quem desde muito cedo se habituou a descartar sonhos e a deitar mãos à vida. Esmiuceia-me os rendimentos e as despesas para que me inteire da justeza da sua decisão. Mãe, pergunta-me, a escola de belas artes de Portugal é no Porto, não é? Explico e ele acrescenta, O meu sonho era estudar arquitectura!. Vira-se para trás com um brilho de “e-se?” nos olhos e um sorriso aberto no rosto. Gostas mesmo de desenho, não gostas?, pergunto eu sem jeito e de voz embargada. Ah mãe, adoro!Despedi-me hoje dele. Estendi-lhe a mão que ele puxou para me dar um abraço. Não vou te esquecer mãe. Deixa-me à porta de casa com este enorme aperto no coração. Raio de vida!AL

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por AL às 15:16

Domingo, 11.03.12

Há palavras que nos beijam

[caption id="attachment_33691" align="aligncenter" width="648" caption="The lovers por Magritte"][/caption]

Há palavras que nos beijamComo se tivessem boca.Palavras de amor, de esperança,De imenso amor, de esperança louca.Palavras nuas que beijasQuando a noite perde o rosto;Palavras que se recusamAos muros do teu desgosto.De repente coloridasEntre palavras sem cor,Esperadas inesperadasComo a poesia ou o amor.(O nome de quem se amaLetra a letra reveladoNo mármore distraídoNo papel abandonado)Palavras que nos transportamAonde a noite é mais forte,Ao silêncio dos amantesAbraçados contra a morte.
Alexandre O'Neill in 'No Reino da Dinamarca'AL

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por AL às 23:37

Domingo, 11.03.12

Hakuna matata

Era bem apertado aquele parque de estacionamento, exíguo o espaço entre as duas filas de carros estacionados em V. Parado nesse espaço exíguo uma carrinha, janelas abertas, chaves na ignição. Do motorista nem rasto e a saída do estacionamento bloqueada. Nada que não se resolva com engenho, boa vontade, um braço dentro do vidro a controlar o volante e uma ajuda a tchovar* e travar.

AL

* empurrar

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por AL às 00:29

Sexta-feira, 09.03.12

Ranjazz

Ontem fomos , eu e o JPT, finalmente juntos em technicolour e ao vivo em Maputo. Chegámos com um ligeiro atraso mas a ocasião pedia comparência. Foi inaugurada a exposição “Ricardo Rangel e o Jazz”, um conjunto de retratos do jazz – de Miles Davis a Mário Laginha. A preto e branco e com o cunho rangelista. O local é a Galeria Kulungwana, lá em baixo nos CFM, logo a seguir ao restaurante-bar mais bonito do hemisfério sul – o Kampfumo.Mesmo ao lado seguiu-se um dos melhores concertos jazz a que assisti ultimamente. Maputo Jazz de sua graça consta de um sortido de músicos fabulosos sob a batuta do professor Orlando da Conceição – mano velho versado nestas lides. A eles juntou-se primeiro a voz de Irina, moçambicana cheia de swing e dona de uma voz para a qual não encontro adjectivos adequados. Depois foi a vez da Elinna, que veio da Finlândia para nos encantar com o seu canto e a sua dança.A noite estava amena, a lua ainda ia cheia e o vento aquietou-se para que nada perturbasse o ambiente. Os amigos, recentes e mais antigos, eram muitos e reinava a boa disposição. Os aperitivos foram fartos, variados e gostosos. O único senão? Não havia chamussas. (Ou chamuças, vá!)ALPS: sim eu sei que a foto está toda desfocada, não tem qualidade iada-dada-dada, mas foi o que consegui. Lá diz o povo: quem dá o que tem .... fica sem nada

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por AL às 20:36

Quinta-feira, 08.03.12

Menina, moça, mulher (re-post)

Menina (13/2/2009)Chama-se Teresa, a minha neta, mas podia chamar-se Rosa de linda e perfumada que é! São três semanas de vida que cabem nas palmas das minhas duas mãos; quase três quilos de gente em 50 cm de presença. É ainda pequenina a minha neta, mas compensa em genica o que lhe falta em tamanho.É delicada a minha neta Teresa que se podia chamar Rosa de linda e perfumada que é. Pigarreia duas vezes num “preparem-se” bem educado e só depois nos brinda com o pranto anunciado.A minha neta Teresa que se podia chamar Rosa de linda e perfumada que é tem o rosto em forma de coração; acaba num queixinho que se adivinha voluntarioso e prenunciador de carácter. Os olhos são de um azul profundo, como os da tia-avó Jú; franze o sobrolho ao jeito da avó Antónia. As sobrancelhas e pestanas, foi buscá-las à tia Joana e o pescoço alto copiou da mãe. No equilíbrio dos genes revela bem ser filha de seu pai e a honra da sua mãe.O cabelo da minha neta Teresa que se podia chamar Rosa de linda e perfumada que é, é claro e arruivado e remata numa madeixa branca enrolada em remoinho rebelde. São as marcas da avó Ana, a madeixa e a rebeldia. É pequenina a minha neta Teresa que se podia chamar Rosa de linda e perfumada que é, mas enche-nos a vida e deslumbra-nos o coração.Cresceu já dois anos a minha neta e com ela a madeixa e a rebeldia. Ainda podia chamar-se Rosa de linda e perfumada que é, mas já não cabe nas minhas mãos; caibo agora eu nos braços dela! MoçaQueria ser médica; a mãe era doente e o sonho dela era estudar muito e ser médica e descobrir um remédio que tirasse a mãe do sofrimento em que vivia.Apurava-se nas aulas e veio um dia um senhor do Ministério da Educação que lhe falou da escola especial que havia lá na capital, para meninas como ela, que queriam ser médicas. Os pais desconfiaram de tanta esmola, mas ela insistia. Afinal o senhor não era um qualquer, era do Ministério da Educação, instituição idónea do governo que os libertara do jugo colonial. Os pais ainda renitentes quiseram conhecer o tal senhor. Sim, era verdade, tratava-se de um programa especial para jovens futuros quadros. Mostrou credencial e identificação. Ela chorou, insistiu, amuou, usou todas as armas que os catorze anos lhe punham à disposição até que, por fim, lá partiu rumo à capital embalada no sonho da escola de medicina pela voz do senhor do Ministério da Educação.O edifício era grande, imponente, rodeado de altos muros. Para protecção, disseram-lhe, que o país ainda estava em guerra. Entrou. Era afinal um quartel, fez instrução militar e lutou durante 10 anos numa guerra que não entendia. Foi desmobilizada sem mais instrução que a que tinha aos catorze anos. Mas não desistiu. Afinal tinha agora 24 anos, era nova e tinha vontade.Com mais instrução que a maioria das mulheres guerrilheiras, arregaçou as mangas e lutou pelos seus direitos e pelo reconhecimento do papel destas mulheres no destino do país. Matriculou-se no ensino à distância; aprendeu inglês; tirou um curso de assistência social. Casou e teve três filhos – dois meninos e uma menina, todos a estudarem. Aprendeu a escrever propostas de financiamento, a falar com doadores, a argumentar com políticos, a discursar em seminários e conferências. Aos fins-de-semana ainda se junta com as amigas no pátio das traseiras da sua casa, onde se enfeitam com tranças e penteados, enquanto desenrolam as histórias da vida que lhes aconteceu. Conheço-a: é minha amiga e diz-me que foi a guerra que lhe deu força para ser quem é! MulherCom grande pena minha não a conheci como gostaria de ter conhecido e poucas foram as memórias que comigo partilhou. Mas a riqueza das suas histórias e a frontalidade com que as contou são-me inesquecíveis.Fruto do seu tempo e da sua época, enfrentava inimigos e críticos de peito aberto, acção em riste e palavra pronta. Não perdoou afrontas nem insultos, mas nunca fechou a generosidade a quem dela precisava. Indiferente à popularidade da causa, empenhava-se a fundo nela se nela acreditasse. Fiel a si mesma e aos princípios pelos quais viveu, nunca se rendeu a facilitismos nem se escondeu atrás de justificações ocas. Amou África; em África nasceu, viveu, lutou e morreu… mas foi Moçambique a sua grande paixão!Não concordei certamente com muitas das suas opiniões, mas sempre lhe reconheci a coragem com que se bateu e a honestidade com que viveu. E por isso a admirei e por isso lhe criei amizade. Senhora de uma memória de elefante leva consigo uma história que fica por contar, deixando-nos a todos por isso mais pobres.Pessoas há que parecem maiores que a Vida; era assim a Lucinda! Tenho duas filhas e uma neta e meia; matriarcas nos batemos para que o mundo delas seja diferente.AL

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por AL às 17:12

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