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maschamba



Quinta-feira, 31.05.12

A verdade do massacre

 Vejo publicada no mural do Facebook de José Goulão, meu conterrâneo da Beira Baixa e ilustre jornalista, a fotografia acima reproduzida e um texto seu que aqui deixo. Pelo que diz da manipulação do real e de nós*, sempre tão prontos a  cegamente apontarmos dedos e a acriticamente esposarmos “boas- causas” sobre as quais pouco sabemos.

O MASSACRE DA VERDADE

A foto que aqui se reproduz foi publicada pelo site da BBC como ilustrando o massacre de Houla cometido alegadamente pelo exército sírio. No entanto foi captada em 27 de Março de 2003 no sul do Iraque pelo fotógrafo Marco di Lauro. Dá que pensar… O massacre de Houla, atribuído sem reservas pela comunicação social de grande dimensão e pelos governos dos países ocidentais ao exército sírio, parece ainda ter muito por explicar, como sabem diplomatas da ONU conhecedores dos meandros em que se movem alguns observadores enviados pelos serviços do secretário geral das Nações Unidas. A BBC, com todo o prestígio que lhe é atribuído, também sem reservas, publicou no seu site esta foto das vítimas do massacre de Houla com a legenda de que teria sido facultada por “um activista” mas cuja autenticidade não poderia ser verificada. O fotógrafo italiano Marco de Lauro teve menos dúvidas sobre a autenticidade da foto e do “activista”: a foto é de sua autoria e foi tirada em 27 de Março de 2003 no Iraque, ao sul de Bagdad, poucos dias depois de iniciada a invasão norte-americana do país. Foi o que Di Lauro, fotógrafo da agência Getty Images, explicou ao diário britânico The Telegraph Com base nas informações que têm vindo a lume sobre sucessivos “massacres” alegadamente cometidos pelas autoridades sírias os governos dos países da união Europeia, entre os quais Portugal, estão a expulsar ou a retirar credenciais aos embaixadores da Síria, considerando assim o regime como único responsável pela violência – que o próprio secretário geral da ONU já qualifica como “guerra civil”. A Administração Obama afirma, na sequência destes acontecimentos, que o passo que se segue tem que ser a substituição do regime de Damasco – embora sem expor a metodologia para concretizar o objectivo. Meios de comunicação com menor dimensão, menor penetração, ou simplesmente abafados, têm dado informações mais completas. Explicam que esquadrões da morte treinados na Turquia e no Kosovo com apoio norte-americano, constituído por mercenários fundamentalistas islâmicos, estão a ser infiltrados em zonas sírias através das fronteiras turcas e libanesa para manterem a desestabilização no país e impedirem o funcionamento do cessar fogo. Os massacres de cidadãos inocentes, entre os quais dezenas de crianças, estão a ser cometidos em coincidência com a visita dos observadores da ONU com a missão de analisarem a concretização do chamado Plano Annan. Coincidem também com a data prevista para iniciar a aplicação da segunda fase do plano, as negociações políticas entre Damasco e a oposição, na qual o regime se tem mostrado muito mais interessado do que a oposição, pelo menos os grupos de índole islamita apoiados pela Turquia, Qatar, Arábia Saudita, Estados Unidos e União Europeia. O mundo não tem dúvidas sobre a realidade que é o carácter violento e autoritário do regime da família Assad; o recurso a fotos como esta levanta, porém, outras questões, como a da manipulação e a falsificação da informação em torno da realidade que se vive na Síria. E também sobre o carácter das “fontes” privilegiadas, sejam elas “activistas”, blogues patrocinados por serviços secretos ocidentais e organizações ditas de direitos humanos surgidas de um momento para o outro. Este não é o primeiro caso de manipulação de fotos e vídeos. Nos últimos tempos da guerra contra a Líbia, a mesma BBC publicou imagens de manifestações anti-Khaddafi em Tripoli que correspondiam a uma manifestação muito anterior realizada na Índia e que tinha a ver com assuntos indianos; e foi demonstrado que o primeiro vídeo divulgado pela Al-Jazeera sobre os festejos resultantes da queda de Khaddafi foram anteriores à própria realidade e fabricados numa encenação montada no Qatar em que foi simulada (com erros crassos) uma praça de Tripoli. A pergunta de fundo é: se a realidade é a que se diz e se explica com tanta convicção que razão leva a que se fabriquem as supostas provas do que se afirma?
* Entenda-se aqui este nós como majestático – muitos nunca terão caído em tais falácias; eu, confesso, ter ocasionalmente cometido o meu pecadilho
AL

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por AL às 22:14

Terça-feira, 29.05.12

O silêncio é de ouro, a música é de prata e o barulho mata

[caption id="attachment_34604" align="aligncenter" width="511" caption="Murmure du Silence por Kahlil Gibran"][/caption]Desculpem se for calada um bocado ou falar pouco para já, explica a G ao entrar no carro. Não é antipatia mas tão somente a necessidade que tenho de algum recolhimento ao fim do dia de trabalho. Que bom e que saudável!, pensei eu, enquanto percorríamos a estrada caladas e sem sentirmos necessidade de “comunicar”. Rendo-me ao silêncio confortável; aquele silêncio que pauta o estar bem e que cimenta a amizade. Conforta-me e traz-me memórias de infância, das noites quentes de Verão nos terraços da casa do meu Avô. Nós, as crianças, ocupávamos o terraço grande da cozinha – cantigas de roda, apanhadas, cabra-cega. Era o terraço do barulho, da gritaria e da confusão. Até que, uma a uma nos íamos cansando e calando, adormecendo no sussurro das criadas.No terraço da frente, os adultos. Num canto, a mesa de jogo para os homens; as cadeiras de verga, onde as senhoras se entretinham em conversas rendilhadas a crochet e a ponto cruz, convenientemente distanciadas. Falava-se baixo, no tom requerido para as confidências que ali se desfiavam. E também para não perturbar o jogo dos homens, vá! Gostava de me juntar aos adultos do terraço da frente. Chegava de mansinho e sentava-me no chão de pedra ainda quente, encostada à cadeira da minha Avó. Adormecia ao som das partilhas murmuradas, sobressaltava-me com o ocasional grito de júbilo ou frustração da mesa dos que jogavam. Era um silêncio confortável que me embalava segura no sentido de pertença.Hoje são raras as pessoas com quem partilho silêncios confortáveis e raros os locais que mo proporcionam. Que uma discoteca tenha a música alta, enfim, entende-se; afinal é mesmo isso que se pretende. Mas um restaurante? Onde estão os bares para se beber um copo e conversar? Quando foi que as esplanadas à beira-mar resolveram abafar o vaivém das ondas com “música ambiente”?  Quando é tão linda a música das ondas do mar...AL

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por AL às 14:38

Segunda-feira, 28.05.12

Fumos virtuais

 Há mais de um ano rendida aos cigarros electrónicos, têm-me estes proporcionado alguns episódios verdadeiramente hilariantes.1. Éramos uns oito ao jantar em casa da T. Flui a conversa, vai-se petiscando, enchem-se os copos e acendem-se os cigarros. Seguro o electrónico costumeiro na mão, vou-lhe puxando uma fumaça e depositando-o aqui e ali sem cuidado de maior. P olha-me verdadeiramente intrigado e pergunta “isso que estás a fumar é o quê?”. Um cigarro electrónico, respondo enquanto lho mostro mais detalhadamente. Adensa-se o ar intrigado de P “Hmm e isso quer dizer o quê? Que estás on-line com outros fumadores?”2. Tínhamos acabado de jantar e enquanto os outros se iam irritando com a demora das contas eu ia puxando umas fumaças no meu cigarro electrónico. M olha-me com ar de raiva carinhosa. Lá estás tu com esse cigarro a fazer inveja ao pessoal, não é? Vapor de água, sem cheiro e tal e coisa, não é? Acentua-se o meu sorriso provocador e o M remata Pois fica sabendo que pareces uma chaleira!AL

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por AL às 21:33

Sexta-feira, 25.05.12

Frouxo

 [caption id="attachment_34530" align="aligncenter" width="267" caption="Quadro intitulado "The Spear" por Brett Murray"][/caption]Não sei quem é Brett Murray e até há meia dúzia de dias nunca tinha ouvido falar dele. Tal como provavelmente 99% dos sul-africanos nunca teriam ouvido falar dele, não tivesse ele feito o que fez. Pintor sul-africano medíocre e didáctico, como já li algures e que aparentemente não tem deixado grande marca nas Artes, catapultou-se como celebridade internacional no dia em que resolveu pintar um quadro (colagem?) com a famosa pose de Lenine, a cabeça de Zuma e um pénis flácido vá-se-lá-saber-de-quem.Jacob Zuma, o presidente sul-africano que passou incólume num processo de corrupção; que inocentou num julgamento de violação de uma seropositiva (filha de camarada morto e sob a protecção dele, Zuma) só porque a intimidação e a coerção social, moral e hierárquica não eram ainda equiparadas à violência física em casos de violação; que, depois de ter sido durante anos presidente da comissão de combate de luta contra a SIDA, afirmou publicamente não ter medo de ficar seropositivo, pois teria tomado um duche depois de violar a protegida; que não se envergonhou nem humilhou com a chacota internacional de que foi alvo na altura; que não se envergonhou nem humilhou isto ...[caption id="attachment_34533" align="aligncenter" width="580" caption="Cartoon de Zapiro"][/caption]... nem com isto ...[caption id="attachment_34534" align="aligncenter" width="580" caption="Cartoon de Zapiro"][/caption]... que não se envergonha nem se humilha com a sua incapacidade para abordar os imensos problemas sociais e de saúde do país que preside, sentiu-se finalmente humilhado com um pénis flácido pintado por um pintor (quase) desconhecido. Aleluia! Isto sim que é saber estabelecer prioridades.Eu, se fosse Brett Murray, estaria agora a dar pulos de contente com tanta publicidade grátis, por tão rapidamente e com tão pouco esforço ver a minha obra projectada internacionalmente e debatida nos principais meios de comunicação. Se fosse do ANC estaria a esfregar as mãos de contente – enquanto se agita a opinião pública não se pensa no que não se resolve. Se fosse Zuma estaria feliz com a solidariedade bacoca que em minha volta se gerou (ah grande Chefe!) e pela onda de apoio a um maior controle da liberdade de expressão (que belo oximoro!). Sendo eu mais bolos, tenho-me divertido à brava com os hilariantes cartoons da Madam & Eve sobre o assunto.Perante tanta indignação presidencial subsiste-me no entanto uma dúvida: mas afinal “aquilo” é mesmo o dele?ALPS: Já agora, podem ler coisas inteligentes sobre o caso aqui e aqui.

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por AL às 19:42

Sexta-feira, 25.05.12

Frouxo

Frouxo

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por AL às 19:24

Quarta-feira, 16.05.12

A velha aliança

 

O JPT já anunciou aqui a boda que vai abrilhantar a cooperativa, tendo esta começado a embandeirar em arco. Ele, JPT, sugere vestidos para a noiva; eu, faço aqui a minha contribuição – as alianças. Pareceu-me ouvir dizer ao noivo que tal coisa não usará, mas ele que tenha paciência pois boda abençoada quer-se aliançada. Estas agradam-me particularmente pelo simbolismo simples da sua confecção: singelos anéis de ouro com um banho de prata que se vai esbatendo com o tempo, revelando a nobreza que lhe subjaz. Tal como os bons casamentos que também no tempo se nobilizam e revelam o seu melhor.Mais ainda, foram estas concebidas pelo japonês Koichi Suzuno e sei, de fonte segura, ser o Japão país do agrado dos noivos. O senão? São caras, mesmo muito caras, mas mesmo assim aqui fica a sugestão. Afinal não tem o simbolismo mais peso que aquele que se lhe dá. E sendo eles, noivos, os românticos que são (ou descobriram ser), de couro ou cordel farão ouro coberto de prata. E são estas as coisas que realmente importam (JPT dixit).AL

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por AL às 21:12


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