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maschamba



Sexta-feira, 08.10.10

Tempestades

(por AL pluviosa)Lisboa despertou hoje com chuva e tempestade, que acordaram memórias de outras chuvas e outras tempestades.A minha casa em Maputo (flat) ficava num sexto andar que, por causa do desnível da rua, seria um oitavo em qualquer outro sítio. À  nossa frente as casas eram todas vivendas baixas e a casa tinha uma vista maravilhosa sobre a baía de Maputo, com os Pequenos Libombos a rematarem nas montanhas mais altas da Swazilândia e da África do Sul. Resquícios finais das Drakensberg, estas. Do outro lado do rio viam-se ainda os mangais da Catembe e o sempre dramático cemitério de navios que expunha os esqueletos na maré baixo. Do lado direito da Baia desaguavam o Matola, o Tembe e o Umbeluzi numa orgia de sedimentos. A vista da varanda da sala era sempre uma alegria para os olhos. E era exactamente por este lado da cidade que se aproximavam as fantásticas tempestades tropicais da época das chuvas. Desciam as Drankensberg (chamemos-lhes assim), saltavam os Libombos e desaguavam na cidade com toda a fúria. Geralmente de madrugada; ocasionalmente ao por do sol.Na minha casa em Maputo, todos os dias de madrugada ouvia o muezzin da mesquita da Baixa da cidade; todos os dias acordava embalada pelo seu canto. Eram despertares lentos e maravilhosos, por vezes seguidos de mais umas horas de sono profundo. Mas se por entre as pálpebras semi-cerradas percebia um clarão, lá ia eu a correr para a varanda para saudar a tempestade que se aproximava. Por vezes vinha ainda tão longe que nem os trovões se ouviam; viam-se meros clarões no horizonte, como se de um farol costeiro se tratasse. Lentamente desenhavam-se nuvens gordas, prenhas de chuva; apanhavam balanço a descer as Drakensberg e vinham numa correria louca, a cuspir relâmpagos e a atroarem os ares anunciando a sua chegada. Eram tempestades verdadeiramente dramáticas. E eu, sentada na varanda, saudava-as sempre com emoção. Os relâmpagos destas tempestades são como eu nunca vi noutro lugar. São cordas enormes de luz que saltam em todas as direcções. Muitos caem no chão e por vezes parecem uma cortina de fitas. Os trovões são tão retumbantes que tremem paredes e vidros.Perdi num dos muitos computadores que me roubaram as fotografias que tinha da baia de Maputo vista da minha varanda. Mas no youtube consegui encontrar o canto do muezzin que aqui vos deixo.

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por AL às 18:58


4 comentários

De Paula Vitorino a 08.10.2010 às 22:22

Que bonito este som (de fundo/ou a impôr-se/ou ainda em consonância) com estas palavras ricas, com estas saudades boas.

De AL a 08.10.2010 às 22:24

Obrigada Paula, fico contente por gostar :)

De VA a 09.10.2010 às 12:23

Querida baronesa,
Que belo texto para adornar a tempestade de ontem..."You had a flat in Africa" :)

De AL a 09.10.2010 às 13:22

La diz o ditado: uma tempestade nunca vem so... Obrigada VA

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