Quarta-feira, 24.11.10
(por AL mistificada)Não sigo de perto a política portuguesa e tendo vivido muito tempo fora do país, cogitava hoje: esta greve é de quem, para quê e contra quem? Depois li
isto e fiquei esclarecida. E aliviada por haver outros a pensarem como eu - nem tudo estará perdido... Se a alternativa ao desgoverno que nos preside for esta esquerda enquistada que se entreteve nas últimas décadas a destruir a estrutura produtiva do país só me ocorre dizer: mais vale o poço da morte que tal sorte!Pior ainda, o discurso persiste e reproduz-se com matizes científicos e académicos:
"... considera que este discurso das centrais sindicais é "ainda mais apropriado pelo facto de o instinto de sobrevivência e o individualismo criarem junto dos jovens alguma resistência às formas de luta colectiva". Cabe ao sindicalismo encontrar "formas de os sensibilizar e mobilizar". Pois!
Já agora, a greve é um direito não é? Ou sou eu que não percebo nada disto e afinal é um dever para ser cumprido, nem que seja à força?Hoje a biblioteca onde costumo estudar, fechou; podemos portanto dizer que fui obrigada a fazer greve. Dos
três milhões que por aí se anunciam, quantos estarão na minha situação?
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14 comentários
Olha que belo comento o do FF.
De FF a 25.11.2010 às 01:01
Eu sou anarquista e fiz greve. Já fui operário fabril 11 anos e nunca fui sindicalizado, e fiz greves. Sou funcionário público há 8 anos, não sou sindicalizado e fiz greves, hoje e no passado. Não quero saber do BE nem da CGTP, nem de qualquer das outras siglas. Sou um cidadão, com os direitos todos em dia, nomeadamente o direito a indignar-me com a situação. O sistema possibilita-me alguns tipos de manifestações para expressar o que sinto, e eu quando posso, uso-os. Escrevo recadinhos nos boletins de voto, faço greves, participo em manifes quando me identifico, e outras coisas. Não parto montras dos macdonalds, nem incendeio carros dos outros. Aceito que haja pessoas que não concordem, que não se manifestem, e que até discordem. Cada um na sua. Não faço parte da burguesia desgravatada da esquerda, nem da engravatada do centro e da direita. Nem por ideologia, nem por lugar social de nascimento. Agora também gostava de dizer duas coisas: é facílimo e cómodo criticar os sindicatos, mas quem é ou já foi operário sabe bem que, em grande parte se não fossem eles o nosso empresariado ainda nos tratava ao nível das fábricas do tempo de Dickens. E esse presunçoso ataque ao funcionarismo público é tão populista como demagogo. Fácil falar nos "direitos e regalias" dos fp, mas comparem essas regalias e o nível salarial, escalão a escalão, com certos sectores privados. Talvez a balança não penda para onde se julga. E já agora, indigno não são os custos da greve geral, indigno é, por exemplo o passivo da CM de Lisboa aumentar, para 2011 em 200 e tal milhões de euros. Isso sim.
De jpt a 25.11.2010 às 00:53
ABM estou a achincalhar a baronesa? Estou a achincalhar os textos que ela foi buscar, que a influenciaram. Estou a usar a linguagem que foi sufragada pela nossa jurisprudência. Deixemos os floreados de lado, não posso aceitar, não posso mesmo, que um sociólogo funcionário venha referir que os problemas do sindicalismo se devem ao "instinto" dos indivíduos. E não posso usar de outra linguagem senão o remeter isto para a cloaca da indignidade intelectual e ideológica que vem. Uso da linguagem referida, que te ofende, desde que abri este blog. Tenho que a censurar porque as ligações são internas? Tenho que refrear o palavrão quando vejo um parvo a protestar porque um piquete de greve é um piquete de greve? Porque vejo um imbecil encartado dizer, pomposo, que quem faz greve são os "privilegiados" (entenda-se, os não trabalhadores eventuais - na prática, a causa da existência dos piquetes)? Francamente, vou chamar fezes à merda? Farás o favor de me dizer onde não percebes o raciocínio.
No fim disto tudo, concordo com a greve? Não, nada, dado que esta gente que a faz anda a votar há anos nesta gente contra quem agora vem grevear. Mas daí ao renhanhan infecto e cloaquento dos jornais vai um enorme passo. Depois há outra coisa ABM, o mais fácil é dizer que os políticos são péssimos (uns ladrões) e o povo uns ignorantes (uns pulhas). No meio ficam os dos instintos de sobrevivÊncia, os dos falsos liberalismos, os que escrevem e sabem. Não há outra forma de os referir senão com a tal virilidade retórica. Os três trechos são uma merda. Influenciam? Ok. Mas é lamentável.
[...] Abaixo o PCA ABM zanga-se comigo por usar da linguagem mais violenta para referir os textos que a AL cita sobre a greve portuguesa. Penso que esta é uma greve absolutamente injusta. Por um lado defende interesses corporativos, por outro é maioritariamente praticada por um conjunto de lumpen-racionalidade que ora vota em Guterres ora vota em Carvalhas, para além dos anarco-sexualistas do professor Louçã. Quem tem dedicado a sua vida de cidadão a estas concepções do real bem que pode agora vir protestar, que “guardado estava o bocado”. Talvez como nunca o grevista é o culpado. [...]
De ABM a 25.11.2010 às 00:22
Sra Baronesa
Impressiona-me sempre como consegue extrair o melhor de cada um de alguns nós com o seu raciocínio. Permita-me partilhar a minha visão da "greve geral" que ocorreu hoje em Portugal, no texto que se segue. Algo enfastiadamente, mas enfim.
D VA
Só uma visão quiçá sul-europeia das coisas pode fazer crer que não seria crível, ou expectável, a disponibilização de um qualquer serviço público, apenas porque entidades sindicais terem "decretado" uma greve.
Jpt
Creio que da luzente linguagem acima empregada não resulta a clarividência do racioncínio. Para além do que creio que a Sra Baronesa desmerece este tipo de desconsideração. Em particular vindo de quem vem. Discordar é uma coisa, achincalhar é escusado.
De VA a 24.11.2010 às 22:08
Cara Baronesa,
Se entrasses na biblioteca como se de um dia normal se tratasse, a greve não faria sentido nenhum. Ou seja, o intuito é exactamente destabilizar a produtividade nacional como forma de protesto contra as políticas governativas.
Aqueles que não querem, não podem (esta parte não entendo porque é um direito constante na lei, mas há quem alegue que o dinheiro faz falta ou que irá sofrer repressálias por parte da entidade patronal - apesar de existirem mecanismos legais para se protegerem as pessoas continuam a ter muito medo)ou se estão borrifando para a vergonhosa governação dos últimos anos, têm justamente de aceitar as consequências inerentes à paralização, dado ser um mecanismo democrático de protesto. A greve é assim um mecanismo legal que abana a "democratias" para que esta volte a si quando começa a resvalar para um "ismo" qualquer.
Mas se há quem não entenda...
De FM a 24.11.2010 às 22:29
Depois do que li, concluo: precisa de estudar muito mais, com ou sem greve.
De jpt a 24.11.2010 às 23:01
EStou do contra, os textos que colhes são uma merda (a do instinto de sobrevivência vinda de um sociólogo até renomado é papel higiénico multiusado, indigno, as tralhas dos liberais são mero lixo). Desculpa a franqueza AL mas há limites para as más influências. Duvido que vá ter insónias, já bebi umas 2Ms, mas se tiver irei escrever contra estas boas merdas (um piquete de greve é para divulgar a greve? foda-se, mas há cu para citar esta merda? os grevistas são os privilegiados? foda-se, boa merda de gente, não é histórico que os movimentos grevistas e sindicalistas nunca são os mais fragilizados? é neste nhanhanha de meninos maricões que vamos reflectir sobre a porra da situação do país? ok, é tralha de gente que escreve no expresso - mas se um gajo cospe na escroqueria moral e intelectual do BE que ali dá ao cu vai bater palmas à merda simétrica? É tralha digna da virilidade retórica, nada mais.
Só falta mesmo citar o palhaço do economista Duque que veio dizer que o país perdia dinheiro com a greve. E não há quem sodomize esta cáfila?
De VA a 25.11.2010 às 02:47
Não poderia estar mais de acordo consigo, C.C.
De jpt a 25.11.2010 às 09:39
ABM acusa-se de uma violência excessiva contra a nossa Baronesa, no que é corroborado pela blogoamiga CC. Ainda que a minha violência não fosse direccionada para a AL mas sim para os infaustos textos que ela levanta tenho que ceder aos avisados entendimentos e: a) apagar o meu comentário, para tentar esconder a minha vergonha; b) explicitar as minhas públicas desculpas à AL, e a todos os que não gostaram dos termos. c) rojar-me, privadamente, aos pés da AL implorando-lhe as milhares desculpas que espero poder vir a ser alvo; d) entrar em jejum teclístico até acalmar a minha ira.
Fica de pé apenas a minha ideia: para quem fala de uma crise económica, social, financeira em Portugal eu resmungo, há uma crise de locução. Que um homem teoricamente pujante como Estanque venha com aquilo que veio é uma vergonha (e espero que pelo menos os seus admiradores, até ex-bloguistas, que por aqui passam ainda venham a ler isto. Porque em sendo gente de esquerda lembrar-se-ão da sua velha arrogância, a de que o obscurantismo é a vileza da direita. E poderão então saber o quão vil, obscurantista e direitista é o discurso da intelectualidade corporativa de XXI em Portugal). Que um jornal como Expresso publique a tralha que publica é uma desgraça, porque é supra-público e se dissemina. Que um blog não queira entender o que é um piquete de greve jã não será tão importante. (E até é simpático, ainda que falsa, a ideia de um piquete de greve ser um balcão de marketing, a distribuir pins e aventais).
Que a gente (os grandes jornais e as grandes universidades) sejam o eco disto é uma desgraça.
Pronto, já disse o que me amargura. O poder ter ofendido a minha mais-que-(quase)-tudo AL. E fazer parte de um país onde esta tralha de locução é lida, ouvida e remunerada.