De AL a 25.11.2010 às 17:05
Ixe, o que para aqui vai; o que acontece quando cuspo para o ar fininho. Nem sei por onde comecar - talvez pelo mais obvio. Nao devias ter apagado o teu comentario JPT. Tira sentido ao fio de comentarios e nao me ofendeu. Conheco-te bem e as tuas diatribes epicas; ja eras assim quando escolhi ser tua amiga.
Nao sou por principio contra a greve; pelo contrario reconheco-lhe toda a legitimidade como expressao de cidadania (como hoje se diz) e tudo o que se lhe associa. O mesmo com os sindicatos. Sao conceitos/valores de tal forma arreigados que nunca me passaria pela cabeca sequer contesta-los. Como diz o FF nao fossem greves e sindicatos e os trabalhadores (europeus) estariam ainda nos tempos de Dickens. Ou estariam como os da China, por exemplo, onde a greve nao e' permitida.
Mas nao fui a favor desta greve em particular, que considerei va e nao tenho particular simpatia pelos sindicatos portugueses por serem como sao. Como diz o JPT, votaram neles, aguentem-nos; como diz o ABM, o que se conseguiu? o que mudou? Ja sei que a greve nao tem que ter sempre um caracter utilitario e pode/deve expressar descontentamento. Que o que por aqui (no pais entenda-se) vai cheira mal, mesmo muito mal. Ja nao se trata sequer de pouca vergonha - ja nao ha mesmo vergonha nenhuma. Da indignidade da divida da CML a indignidade da corrupcao generalizada, sistemica e descarada, passando pela indignidade de haver doentes a terem que prescindir de medicamentos que nao podem agora pagar e pela pobreza aberta e escondida que parece crescer diariamente, este pais parece mesmo ser um pais de indignidades. Eu demonstro o meu desprezo total da forma que melhor sei - voto com os pes. Mas pese embora o meu descontentamento, nao quero associar-me com a gentalha que promoveu esta greve e que o JPT tao bem descreve noutro post aqui.
Quanto aos textos. O do Expresso, confesso que lhe acho piada. Va JPT, estrebucha para ai a vontade! Sim, e' simplista, demagogico, enfatuado, arrogante, pateta e tudo isso, na onda da dicotomia maniqueista que a CC referiu aqui algures (nao me lembro exactamente onde e nao me apetece procurar). Mas levanta questoes que, quanto a mim, merecem reflexao e por ser tao maniqueista remete-me tambem para o oposto. Garantia de emprego versus salarios por exemplo (como o FF referiu) ou versus o tipo de trabalho que os fp tem que fazer todos os dias - sao eles a cara de politicas e directrizes frequentemente absurdas, sao eles que estao na linha da frente na imposicao de regras anacronicas; sao eles que apanham com o mau humor das frustracoes anti-governo ou anti-burocracia; sao eles que educam os nossos filhos; sao eles que protegem os nosso bens e propriedade e sao eles que tratam os nossos doentes. Mas a garantia de emprego nao deixa de ser um privilegio, tal como e' o nao terem salarios em atraso, por exemplo. A funcao publica parece ser um alvo facil de demagogias sortidas, principalmente se nao se quer abordar a tristeza do sector privado e atribuir a culpa aos sindicatos pela indigencia economica do pais. Evita-se assim falar das falencias apressadas para evitar pagamentos de salarios e/ou seguranca social; das mas gestoes e faltas de visa; da dependencia dos subsidios estatais; das negociatas com os bancos, etc.
Mas isso nao quer dizer que os sindicatos nao tenham tido e nao continuem a ter a sua quota de responsabilidade no estado actual das coisas ao preocuparem-se, parece-me a mim novamente, essencialmente com agendas politico-partidarias independentemente do impacto que elas possam vir a ter na estrutura produtiva do pais. Honestamente, se eu tivesse dinheiro para investir nao o faria aqui em Portugal e em grande parte devido as leis laborais que ca temos. Que sao elas mesmas maes da abundancia de recibos verdes e da precariedade de trabalho principalmente dos mais jovens. Novamente em minha opiniao.
O texto do tal sociologo que nao me lembra o nome e' de facto indigente e como tal o referi; pelo menos era essa a minha intencao. Referi-o exactamente pelo absurdo da coisa e por ser um discurso recorrente.
Quanto ao dos piquetes, referi-o porque me remeteu para a (para mim) ambiguidade que os piquetes de greve representam - a aplicacao forcada de um direito. Porque se eu tenho direito a fazer greve, o outro deve tambem ter direito de nao o fazer, seja la porque razao for. Nas coisas que li falava-se muito da pressao patronal para que os trabalhadores dos privados nao aderissem a greve, mas pouco ou nada se referiu a pressao de pares para se aderir a greve. Lembro-me de alguns filmes ingleses (cujo nome nao me recordo) sobre greves mineiras onde estas duas pressoes - do patronato e dos pares - estavam muito bem explanadas. Desde os mais antigos ate ao mais recente (visto por mim) Billy Elliot, que tinha a greve dos mineiros como pano de fundo. Por ca, que eu tenha lido, a unica referencia que encontrei foi a que aqui pus. E pobre, inexacta e desajeitada mas foi a unica que nao entrou na onde do "lobo mau do patrao que explora os trabalhadores e os ameaca com o despedimento se nao forem trabalhar".
Deveria ter sido mais explicita no post? Talvez, mas se o tivesse sido provavelmente nao teriamos tido o debate que aqui houve. Os textos sao porcaria? Serao, mas sendo isto maschamba e tendo eu falta de adubo, nao fica mal um pouco de estrume. Ontem fui eu que o trouxe. O JPT e outros leitores nao gostaram do cheiro, refilaram e refilaram bem. Ainda bem que podemos refilar uns com os outros e ja agora, JPT, poe la a tua diatribe outra vez.