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maschamba



Segunda-feira, 10.10.11

Quando nem a morte rasto nos deixa

    Foi o meu amigo Giovanni Diffidenti, na altura ainda fotógrafo de guerra, quem primeiro me falou da S-21 e do impacto que nele teve quando pela primeira vez lá entrou pouco depois da queda dos Khmer Rouge. Actualmente um museu, foi centro de detenção e tortura do regime de Pol Pot. Dos cerca de 30.000 detidos não sobreviveu mais que uma meia dúzia. Quando em 1979 os Khmer Rouge fugiram do exército vietnamita, apesar do fogo ateado na tentativa de apagar os rastos burocráticos do genocídio aí perpetrado, sobreviveram na S-21 cerca de 6000 fotografias a preto e branco, semi-queimadas algumas, rasgadas outras. Empilhadas em gavetas, espalhadas pelo chão, juntas por um elástico. Homens esquálidos, mulheres com bébés de colo, crianças, casais, idosos, famílias inteiras num último registo fotográfico perante a morte. Muitos com sinais visíveis de tortura; todos com o medo e o sofrimento estampados no rosto e de identidade apagada num número. Da sua existência nada mais resta senão estas imagens, legados pungentes do inaceitável.Dos muitos livros, documentos e testemunhos que hoje abundam sobre a S-21 gosto particularmente de Binh Danh, jovem fotógrafo cambojano-vietnamita cujo trabalho explora a “mortalidade, memória, história, paisagem, justiça, evidência e espiritualidade”. Binh Danh imprime em folhas vivas estes retratos da  morte.Hoje é o dia 10 de Outubro e assinala-se o Dia Mundial contra a Pena de Morte. Assinalo-o eu aqui com estes mortos sem sentença, mortalha ou nome. Invocados na vida de uma folha e falados na palavra de um jovem poeta português.#Ah, finalmente o sonoa estranha morteo chão desconfiado rente ao corpoum lençol de linho à minha sorte.# Joaquim E. OliveiraAL

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por AL às 22:47


4 comentários

De AL a 12.10.2011 às 11:13

Absolutamente! Era essa exactamente a ideia subjacente ao postal

De jpt a 12.10.2011 às 08:21

1B tem razão neste resmungo contra as indignações selectivas

De Rock for Kampuchea | ma-schamba a 12.10.2011 às 09:10

[...] Abaixo a AL alerta-nos para o trabalho fotográfico que nos recorda o desvario de Pol Pot. Exemplo máximo, quantitativa e percentualmente máximo, dos desvarios “iluminados” de XX. No meu país de então o acantonamento do pensar prejudicava as indignações, convém não esquecer. Ainda para mais sabendo que “protagonistas” de hoje já se protagonizavam então. Também por isso, mas por muito mais, dá-me gozo lembrar-me deste Concerto para o Kampuchea, em 1979 e que em versão vinil de então logo me chegou à mão (e assim continua). Outros havia que … compravam outros discos. Ainda hoje. (Seria giro que os filhos de alguns amigos e/ou colegas, hoje tão entregues aos “bichos” – em “seminários de insurreição” e “acampadas” -, ouvissem estes velhos rockeiros. Pelo rock. E para entenderem os “bichos” de quem são pioneiros. Pensando o tão “cool” que isso é …). [...]

De umBhalane a 11.10.2011 às 21:42

Ninguém tem o direito de tirar a vida a alguém. E ponto final.

E se foi legítima a oposição conta os regimes fascistas, totalitários, não se compreende, nem se aceita, que esses mesmos opositores teçam hinos de louvor, e apoiem (continuem a apoiar!!!) regimes também totalitários deste cariz, com registos apavorantes.

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