Acho que não concordo muito contigo, responde ele com aquele ar entre o meditativo e o consternado ao meu comentário mundano sobre a cordialidade indonésia. Acho mesmo que ainda há alguma hostilidade contra os portugueses. Olha só o que me aconteceu quando vinha ter contigo. Chego a Denpasar e a Merpati tinha feito over-booking para o voo para cá. Foram chamando os passageiros e ficámos aí uns vinte de fora. Então o fulano diz em voz alta que há um lugar livre e pergunta se havia algum passageiro a viajar sozinho. Lima!, grito eu lá do fundo. E o gajo continua:
Not Lima! Only passengers travelling alone. E eu lá do fundo outra vez: Lima, Lima! E ele nada! Continua a perguntar por passageiros sozinhos e eu cada vez mais em desespero, de mão levantada a gritar o meu nome: Lima!Acentua a palavra com o gesto de braço bem erguido, mão aberta com os cinco dedos bem esticados no reforço do protesto. Olha que o gajo só me deu o cartão de embarque quando eu, já fulo de todo, lhe mostro o bilhete e o passaporte... Mas o que foi? Porque é que estás a rir?Oh António, lá consigo eu dizer entre lágrimas e gargalhadas, Lima em indonésio é cinco!É o quê?, insiste ele ainda sem perceber.Lima é cinco!, explico eu quase sem fôlego. Quando contamos, sabes? Um, dois, três? Em indonésio cinco é lima!AL