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maschamba



Segunda-feira, 21.11.11

A espada do Islão

 [caption id="attachment_32256" align="aligncenter" width="514" caption="Daqui: http://www.independent.co.uk/incoming/article6265449.ece/ALTERNATES/w380/Pg-7-gaddafi+reu.jpg"][/caption] Hoje de manhã ao ler o meu jornal matinal deparo-me com um pequeno vídeo de uma entrevista a Saif, segundo filho do Coronel Gaddafi/Khadaffi/Qadafi, em que ele fala dos ferimentos sofridos durante um ataque da NATO e da sua captura posterior por líbios. Diz ele:
“ Relativamente à situação actual, existe alguma confusão ... Depois de sairmos de Bani Walid, fomos atacados pela matilha dos cruzados, em que 26 dos nossos homens se tornaram mártires e muitos outros ficaram feridos. O ferimento que eu tenho foi infligido pela matilha dos cruzados há cerca de um mês perto de Wadi Zamzam. E felizmente não foram os líbios que nos atacaram, quem nos atacou foram os infiéis. Concordámos que eu seria tratado aqui em Zintan, porque diz-se que aqui existem instalações médicas e anestésicos para a operação que eu preciso. Estamos aqui com as nossas famílias, com os nossos irmãos e não há qualquer problema. Temos falado muito sobre a minha condição médica... “
Não posso deixar de saudar que Saif não tenha sido submetido à mesma brutalidade e pornografia das mortes do pai e do irmão mais velho. Mas este discurso de bushismo invertido – matilha, cruzados, mártires, infiéis, concordámos, irmãos – não me soa a discurso de rendição e conciliação; soa-me a belicismo de aliança e pré-campanha. A mim, o que me diz é que Saif está de novo em casa, com a sua arrogância e sentido de “entitlement” incólumes. Lá diz o povo que o bom filho a casa torna e que os filhos do ferreiro não têm medo de fagulhas. Ou me engano muito ou ainda hei-de vê-lo novamente nos corredores do poder. Assim eu me engane. Inschallah!ALADENDA: Em comentario mais abaixo foi-me enviado um link para um artigo que vale a pena ler. Por isso o puxei aqui para cima.

Autoria e outros dados (tags, etc)

por AL às 21:16


5 comentários

De Bayano valy a 21.11.2011 às 22:44

olá ana,

obrigado por partilhares. estou a tentar encontrar uma resposta à tua hipótese. não está fácil por uma razão simples: é me difícil fazer futurologia.


mas o que me parece estar a acontecer é uma tentativa de saif al-islam de acalmar os ánimos. afinal viu como o pai morreu nas mãos dos agora vitoriosos.é mais fácil e talvez politicamente mais correcto não falar da forma como o seu pai foi assassinado. por isso não me espanta a completa culpabilização da nato.

depois, parece-me que o que o al-islam está a fazer é chamar a atenção dos islamitas sobre as intenções do inimigo, ie, a nato (frança e inglaterra). não te esqueças que o movimento rebelde não é e nunca foi monolítico, e há grupos islamitas enxertados na cúpula rebelde. talvez não tenha sido por um lapso que o então primeiro ministro do conselho nacional de transição tenha dito que a futura lei líbia teria como base a lei islâmica.

portanto, para mim o saif al-islam fez um discurso anti-ocidente para ganhar alguma simpatia junto dos seus captores, bem como alertar os elementos islamitas dentro do conselho sobre os perigos de abraçarem de perto o ocidente. aliás, não te esqueças que o discurso dos cruzados normalmente atiça os ánimos dos povos árabes.

bjinhos

ps: se tiveres tempo leia o longo artigo no link abaixo


http://www.lrb.co.uk/v33/n22/hugh-roberts/who-said-gaddafi-had-to-go

De AL a 21.11.2011 às 23:13

Caro Bayano nao e' futorologia e nao e'sequer uma hipotese; nao passa de uma especulacao, de um cuspir fininho para o ar se quiseres. Vendo o video e ouvindo o discurso nao me parece que ele esteja numa de conciliacao ou de acalmar os animos. A mim parece-me sim que, como dizes, esta a fazer um discurso para ganhar simpatia e, mais ainda, criar clivagens ainda maiores colando-se, ou apelando, eventualmente a fundamentalistas. Acicatar os animos, portanto. Tal como fez o bush quando apelou ao discurso das cruzadas e aos ratos etc. Para mim sao ambos condenaveis e a mesma coisa, ainda que oriundos de lados diferentes "da barricada".

A intervencao internacional e' e sera sempre contenciosa seja ela onde for, mas para mim a justica ou injustica da intervencao nao isenta nem desculpabiliza regimes que eu considero inaceitaveis. Como o regime dos Gadaffis e de muitos outros ainda vigentes (Siria, p.e.) e alguns ja derrubados em caos anunciados (Egipto, p.e.). Como costumo dizer, dois errados nao fazem um certo.

A mim pessoalmente, abracar o ocidente nao me parece nada mal; apesar de tudo e' para mim o melhor dos piores regimes que conheco. E' o que me permite apontar dedos e refilar e dizer o que quero. Como neste espaco, por exemplo. E' hipocrita? Certamente que sim, que usa dualidades muito questionaveis mas eu se puder escolher nao quero viver sob nenhum outro. Afinal pauto-me por valores ocidentais e assumo-os como tais - as minhas nocoes de justica, de solidariedade, de direitos, de humanidade, etc, sao ocidentais e em si, enquanto valores, nao sao nada maus. O que depois na pratica deles se faz pode ser questionavel, mas bolas, que bom que e' poder questionar sem medo essa pratica! Que bom que e' haver pluralidade de ideias e debates. Que bom que e' podermos circular livremente. Que bom que e' ....

Nao me passa pela cabeca impo-lo a outros, mas lamento que nao possamos todos viver com este regime ocidental que tao na moda esta ser criticado.

Mais do que a questao politica, eu olhei (e olho) para isto do ponto de vista humanitario, porque a sensacao que tenho e' que estou a ver nascer uma guerra que vai certamente ser brutal e sangrenta (como todas as guerras alias. Ca estou eu nos lugares comuns).

Obrigada pelo artigo. Vou ler certamente
Um abraco e ate breve :)

De Bayano valy a 22.11.2011 às 01:30

prezada ana,

pois bem, ainda bem que parece estarmos acordados no respeitante ao objecto do discurso de saif al-islam. e também concordo contigo que no que tange ao uso do discurso das cruzadas e ratos, etc... estamos perante um maniqueísmo barato. aliás, essa diabolização do outro não é apenas província de al-islam e bush, encontramos no mesmo barco ilustres (?) figuras como cameroon, sarkozy e muitos jornalistas.

intervenção internacional? talvez o termo mais correcto fosse intervenção ocidental? chamarmos internacional ao que o ocidente juntamente com os seus acólitos têm vindo a fazer não difere muito de chamar guerras mundiais ao que foram eventos que em grande parte ocorreram na europa – grandes guerras talvez. o meu ponto é que enquanto o tal sistema internacional continuar configurado como está hoje, não merece o termo de sistema internacional. outrossim, podemos evocar o termo sistema de interesses ocidentais. e não me parece inocente o burburinho que se levanta sobre a eventual ascenção da china ao topo do mundo.

pois, dois errados não fazem um certo. e eu também não me vou com regimes autocráticos e ditatoriais. mas parece-me um grande cinismo que a chamada intervenção internacional seja evocada quando os malvados ditadores já não servem fielmente os interesses do ocidente. daí a minha discordância com a tal figura. temos o exemplo da américa saudita; qual lacaio do ocidente! quem me dera que tenhamos alí uma revolução estilo francesa, com direito a ver rolar a cabeça do rei!

temos um israel a expropriar as terras dos palestinianos e o que nos dizem? os dois têm de negociar. sinceramente! negociar o que exactamente? portanto, desculpe-me se não partilho o mesmo entusiasmo com relação ao ocidente.

obviamente que estamos juntos no concernente às liberdades que o ocidente vai exportando pelo mundo fora. pena que as mesmas não nos tenham sido outorgadas há muitos séculos. assim não teríamos tido o nefasto capítulo do colonialismo. enquanto os seus povos usufruíam dessas liberdades pilhavam nossos recursos e negavam-nos a nossa humanidade. construíram um mundo onde aparentemente imperava a democracia. hoje vemos que o que de facto manda é o capital. é interessante que governos eleitos são hoje “depostos” pelos mercados. o que aconteceu na grécia (erradamente intitulada o berço da democracia), na itália e no domingo em espanha é prova disso.

que outro modelo? também não sei. mas não acredito que tenhamos alcançado o fim da história com a democracia. acredito na capacidade que o homem tem de inovar. da mesma forma que se chegou à democracia, amanhã poderemos partir para outra.

portanto, não vale a pena estarmos a lamentar uma possível guerra na líbia. ela começou quando houve a tal intervenção internacional.
beijinhos

De AL a 22.11.2011 às 19:23

Bayano, ainda que o meu entusiasmo pela cultura ocidental seja bem mais evidente, nao deixo de ser critica tambem e parece-me que no essencial estamos de acordo. Ainda hoje lendo o jornal e folheando cartoons - abundantes sobre a Siria - me interrogava sobre a dualidade de criterios. No pormenor discordamos salutarmente (pelo menos nalguns dos pormenores), o que me deixa antever interessantes debates no futuro.

umBhalane, ainda que concorde com os maleficios do politicamente correcto, eu gosto de acreditar na redencao. Sera ilusao, mas e' uma com que escolhi viver.

Ainda que fria e chuvosa, um bom resto de tarde para ambos :)

De umBhalane a 22.11.2011 às 18:40

Um bom cirurgião nunca deixa metástases.

E os erros, no caso, pagam-se caros, talvez demasiado caros.

O politicamente correcto tem desembocado naquilo em que a UE/Ocidente estão.

Aprender com os Russos/Putin.

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