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maschamba



Terça-feira, 08.03.11

Diz-me como andas, dir-te-ei quem és

Celebra-se hoje (e correndo o risco de irritar o nosso Senador que desgosta deste tipo de efemérides) o Dia Internacional da Mulher. Já aqui o mencionei no ano passado e na outra encarnação do ma-schamba. Hoje dei uma vista de olhos pela imprensa online e vejo que o dia parece estar a ser devidamente assinalado. Recordam-se mulheres famosas, fazem-se rankings, referem-se tópicos considerados relevantes para as mulheres e de acordo com as agendas de quem os escreve.O ano passado falei aqui de mulheres anónimas, que provavelmente nunca farão parte dos rankings ou das notícias de topo; este ano não vou falar de nada disso. Vou falar de outros aspectos que me condicionam a mim, mulher, pelo simples facto de ser mulher (e não, não tem a ver com maternidade). Vem isto tudo a propósito de um passeio que dei recentemente com um amigo pelas ruas de Lisboa. Queixou-se ele a dada altura que Andar contigo na rua é um stress de dança. Estás sempre a trocar de lugar comigo; não sabes que é suposto sermos nós os homens a andar do lado de fora do passeio? Eu ponho-me do lado de fora e mal dou por isso já me trocaste o passo!.Tinha razão o meu amigo. Habituei-me já há muitos anos a andar do lado de fora do passeio por ser mais seguro quando caminho sozinha; não fico encurralada entre um potencial malfeitor e uma parede, consigo assim manter uma rota de fuga. E comecei a inventariar as coisas que faço automaticamente quando caminho sozinha pelas ruas. De dia, do lado de fora do passeio; de noite, pela estrada que passa a ser a minha rota de fuga se me sair alguém escondido entre dois carros; não gosto de usar rabo de cavalo (quando tenho o cabelo comprido) porque se pode revelar uma potente arma de submissão física; se ando de cabelo comprido solto, tendo a metê-lo para dentro da gola do casaco ou debaixo do cachecol, pela mesma razão. As pontas do cachecol, os lenços, os colares, estão também sempre bem metidos por dentro da roupa. Se ando de carro tranco as portas todas e nunca abro os vidros o suficiente para permitir a introdução de um torso. Conviveste muitos anos com a violência, responde o meu amigo com remate de compaixão.Talvez. Talvez ele tenha razão. Talvez a vivência nos contextos de violência tenha ajudado a interiorizar este meu comportamento de tal forma que hoje assim reajo tão automaticamente. Mas as regras, aprendi-as num país europeu considerado como dos mais seguros e o que elas me dizem principalmente é que me comporto assim porque sou mulher. E penso que, como eu, milhares de outras mulheres se socorrem de pequenos gestos semelhantes por serem mulheres e não por viverem em contextos de violência. O que não deixa de ter o seu quê de irónico. Se por um lado nos dão potencialmente uma sensação de maior “segurança”, por outro reforçam a imagem de vulnerabilidade associada com o meu sexo.Penso que nunca como actualmente se falou tanto sobre estas questões de sexo, género e igualdade. Introduzir diferenças biológicas nestes debates tornou-se quase anátema e o fosso entre biologia e cultura tem vindo a alargar-se. Eu tenho para mim que as questões são multifacetadas e raramente definidas ou explicadas por uma causalidade. Nem me interessa particularmente o que pesa mais nesta questão do género – biologia ou cultura; penso ser mais interessante a forma como se articulam. Se sexualmente nos completamos para criar vida, completemo-nos então culturalmente para criarmos igualdade. Por isso e por ser hoje o Dia Internacional da Mulher, saúdo hoje igualmente os nossos leitores homens e deixo-vos dois artigos onde também eles são incluídos, ainda que de forma bem diferente: um foca diferenças no tratamento de comportamentos semelhantes e o outro a violação (também) masculina.AL

Autoria e outros dados (tags, etc)

por AL às 14:25


1 comentário

De AL a 08.03.2011 às 20:18

Acho mesmo que seremos muitas Marta

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