Quinta-feira, 15.11.12

Hoje decidi encerrar a minha página no Facebook. Ah mas porquê, perguntam-me vozes amigas do outro lado do fio. Porque posso, respondo eu. Ir-nos-emos encontrando por aqui, na cooperativa, que não vou deixar de maschambar.AL
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Segunda-feira, 12.11.12

Acordou radiosa a manhã hoje, a espreguiçar-se num imenso céu lavado de azul. Mas chove no meu jardim. Faltam-me os olhos que dão cor às flores e os braços que me aquecem a vida. Porque há dias assim, em que só vejo com os olhos da alma.AL (para o P)
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Sábado, 10.11.12

Acordou-me o rac-rac do côco a ser ralado eram 3 da manhã. Levantei-me e espreitei da varanda. Duas mamanas buzarinhavam já no quintal. Enquanto uma ralava o côco, a outra soprava com sono o lume que àquela hora teimava em não querer acender. Encostadas à parede, perfilavam-se panelas de tamanhos vários e materiais diversos num prenúncio de festa farta. Um tchova de frangos já depenados e estripados chegou por volta das 10 da manhã. Seis enormes alguidares transbordavam com as folhas da matapa. Fritam-se as bagias e corta-se a manga ainda verde. O arroz, contido numa saca grande ainda cosida em cima, a estrear. Pela porta do quintal um corropio de mulheres e criançada; todos se afadigavam com os preparativos – arrastar mesas, arranjar cadeiras, os colman cheios de gelo, refresco e cerveja. Dois homens arrastaram enorme grade de ferro (secção de um qualquer gradeamento) que posta em cima do lume fez de cama aos frangos que manhã dentro se iam assando. A mandioca farta que nem fardo de lenha, descansou por pouco tempo debaixo de um alpendre, para logo-logo virar chinguinha. Perfumou-se o ar com aromas de iguarias. Acabado agora o repasto entra-me pela janela a música que as mulheres cantam. Um coral harmonioso de cantigas que desconheço, pautadas por palmas, pelo tilintar da louça e pelos gritos da pequenada. Jovens e outras mais afoitas limpam as mãos na capulana e ensaiam uns passos de dança. Gritam-se pilhérias, escondem-se risos envergonhados. Ululam as casadas.Há festa hoje no quintal das traseiras do nosso prédio e a alegria espalha-se em todos os patamares.AL
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Sábado, 10.11.12

Maputo, dizem-me, comemora hoje 125 anos de vida. Cidade que tanto quero e que tão bem me tem tratado. Assinalo a data aqui com a imagem que a ela sempre associo – as acácias rubras que começam já a cobri-la como um manto. Estas estão à porta da minha varanda e estão lindas!AL
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Segunda-feira, 22.10.12

São 96 anos de idade condensados em pouco mais de um metro de gente. Uma força da natureza e uma alegria inesgotável de viver.
Sabes filha?, quem me dera ser nova agora! Não devia ter nascido quando nasci, agora é que era! Poder ir estudar, ser uma profissional... Isso é que eu gostava. Tu não deixes nunca de estudar, ouviste? Se eu fosse nova agora ninguém me agarrava! Vinca-se-lhe o sorriso no rosto com o sonho desta sua vida por viver; carrega-se-lhe a ternura nos olhos quando olha para nós, a geração que vive o sonho dela.Juntou-se a nós naquele dia, em local remoto. Desce do carro (
não venham a correr a ajudar-me que eu não sou inválida; se precisar de ajuda eu peço), bengala numa mão, laptop na outra.- Tia, trouxe o seu laptop...- Ai sim filha que tenho muita coisa que ainda quero fazer, muitas saudações a enviar. Tenho uns emails para escrever e tenho que falar no skype com algumas amigas, sabes?- Mas tia, digo eu algo perplexa, aqui não há acesso à internet...- Não faz mal filha que eu não uso nada dessas coisas que vocês usam, eu só uso o gmail e o skype.É assim a minha Tia, a mais velha da família. E eu adoro-a!AL
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Quinta-feira, 18.10.12

Alô central, aqui 02 02 escuto....Fssshhhhh.... fsssshhhhh.... fsssshhhh02 02 chama central, escuto.Fssshhhhh.... fsssshhhhh.... fsssshhhh(umas três ou quatro vezes depois)Central aqui 02 02 escuuuuto pá!02 02 aqui central escuto.Estou na porta da casa com cliente, cliente está quinhentada, não tenho troco, estou a pedir ir xxxx fazer trocação. Escuto.Fssshhhhh.... fsssshhhhh.... fsssshhhh(quatro ou cinco vezes depois do mesmo e tom cada vez mais impaciente)Alô central, aqui 02 02 estou reclamar este djob muito negativo! Cliente na porta da casa, está quinhentada, não tenho troco, estou a pedir ir xxxx fazer trocação. Escuuuuto pá.(vira-se para trás)Desculpa mãe, djob muito negativo, sorry lá...Sorrio, digo: deixa lá, estás a fazer o que podes, não tenho pressa.Sorrio, penso: quinhentada? Djob negativo? Trocação? Sorry lá? Adoro! Vivam os táxis Marcelo!AL
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Quinta-feira, 18.10.12
Quem me ortocoisa meu amigo é
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Quarta-feira, 17.10.12

Esta a casa que só eu conheço e só eu habito, tão cheia da sua ausência que também sua se tornou. Nossa agora, esta casa ainda vazia de si. Vejo pela janela a varanda da casa onde vivi quando outrora cá morei;
aquela varanda da qual via aproximarem-se as tempestades que escorriam dos pequenos libombos. Espreito-a daqui e sei que fechei um ciclo e que outro acabo de estrear - consigo, connosco. Os sapos da chuva cantam de alegria. E eu também. Por mim, por si, por nós.AL (para o P)
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Domingo, 07.10.12

Enleou-se no enredo da minha vida e trocou-lhe as deixas. Ancorou-me a errância, povoa-me a ausência. Inscreveu-se no meu calendário. Mexeu na minha geografia e coloriu-me o atlas em matizes de memórias.AL (para o P)
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Domingo, 23.09.12

Ensimesmada e nostálgica com a despedida breve de amigos que partiam para terra lusa, apresentei ao caixa o bilhete do estacionamento. Acho que fiquei menos de quinze minutos, digo.
Vamos ver já isso mamã. Sorrio com a ternura do mamã e a jovialidade do caixa. Vejo-o meter o bilhete na máquina de leitura. Faz um ar admirado.
Mamã, afinal este bilhete diz aqui que tem que pagar; diz que é um beijo. Mas a mamã não se preocupe que este pago eu por si. Atira-me um beijo na ponta dos dedos e abre-me a cancela.Um sorriso e um gesto singelo que me puseram o sol na alma e amenizaram as agruras do resto do dia. Afinal há gestos felizes. Bem haja!AL
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