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A confusão a fraude os erros cometidosA transparência perdida — o gritoQue não conseguiu atravessar o opacoO limiar e o linear perdidos
Deverá tudo passar a ser passadoComo projecto falhado e abandonadoComo papel que se atira ao cestoComo abismo fracasso não esperançaOu poderemos enfrentar e superarRecomeçar a partir da página em brancoComo escrita de poema obstinado?
Os Erros por Sophia de Mello Breyner Andresen, in "O Nome das Coisas"
AL
Estou mais perto de ti porque te amo.Os meus beijos nascem já na tua boca.Não poderei escrever teu nome com palavras.Tu estás em toda a parte e enlouqueces-me.Canto os teus olhos mas não sei do teu rosto.Quero a tua boca aberta em minha boca.E amo-te como se nunca te tivesse amadoporque tu estás em mim mas ausente de mim.Nesta noite sei apenas dos teus gestose procuro o teu corpo para além dos meus dedos.Trago as mãos distantes do teu peito.Sim, tu estás em toda a parte. Em toda a parte.Tão por dentro de mim. Tão ausente de mim.E eu estou perto de ti porque te amo.Joaquim Pessoa, in 'Os Olhos de Isa'AL
Por muito tempo achei que a ausência é falta.E lastimava, ignorante, a falta.Hoje não a lastimo.Não há falta na ausência.A ausência é um estar em mim.E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,que rio e danço e invento exclamações alegres,porque a ausência, essa ausência assimilada,ninguém a rouba mais de mim.Carlos Drummond de Andrade in 'O Corpo'AL
Há palavras que nos beijamComo se tivessem boca.Palavras de amor, de esperança,De imenso amor, de esperança louca.Palavras nuas que beijasQuando a noite perde o rosto;Palavras que se recusamAos muros do teu desgosto.De repente coloridasEntre palavras sem cor,Esperadas inesperadasComo a poesia ou o amor.(O nome de quem se amaLetra a letra reveladoNo mármore distraídoNo papel abandonado)Palavras que nos transportamAonde a noite é mais forte,Ao silêncio dos amantesAbraçados contra a morte.Alexandre O'Neill in 'No Reino da Dinamarca'AL
Não contes do meuvestidoque tiro pela cabeçanem que corro oscortinadospara uma sombra mais espessaDeixa que feche oanelem redor do teu pescoçocom as minhas longaspernase a sombra do meu poçoNão contes do meunovelonem da roca de fiarnem o que façocom elesa fim de te ouvir gritarMaria Teresa HortaAL
Tu és a folha de outonovoante pelo jardim.Deixo-te a minha saudade- a melhor parte de mim.Certa de que tudo é vão.Que tudo é menos que o vento,menos que as folhas do chão...Em Canção de Outono de Cecília Meireles[caption id="attachment_31934" align="aligncenter" width="922" caption="Oslo - Outubro 2011"]
Get used to opening windows wide to see what the past has done to the present, and weep quietly, quietly, lest our enemies hear broken shards clattering within us."The Tragedy of Narcissus" by Mahmoud Darwish (excerpto)
When we saw the wounds of our countryappear on our skins,we believed each word of the healers.Our ailments were so many, so deep within us,that all diagnoses proved false, each remedy useless.Now do whatever, follow each clue,accuse whomever, as much as you will,our bodies are still the same,our wounds are still open.Now tell us that we should.you tell us how to heal these wounds.“You Tell Us What to Do” by Faiz Ahmed Faiz (excerpto traduzido por Agha Shahid Ali)
Quem somos, senão o que imperfeitamentesabemos de um passado de vultosmal recortados na neblina opaca,imprecisos rostos mentidos nas páginasantigas de tomos cujas palavrasnão são, de certo, as proferidas,ou reproduzem sequer actos e gestoscometidos. Ergue-se a lâmina:metal e terra conhecem o sangueem fronteiras e destinos poucoa pouco corrigidos na memóriaindecifrável das areias.A lápide, que nomeia, não descrevee a história que o historia,eco vário e distorcido, é jádiversa e a si própria se entretecena mortalha de conjecturados perfis.Amanhã seremos outros. Por oranada somos senão o imperfeitolimbo da legenda que seremos.Rui Knopfli - Quem somos
Preciso ser um outropara ser eu mesmoSou grão de rochaSou o vento que a desgastaSou pólen sem insectoSou areia sustentandoo sexo das árvoresExisto onde me desconheçoaguardando pelo meu passadoansiando a esperança do futuroNo mundo que combato morrono mundo por que luto nasçoMia Couto - Identidade480"="480"" height="360" rel="noopener">">
Mal nos conhecemosInauguramos a palavra amigo!Amigo é um sorrisoDe boca em boca,Um olhar bem limpoUma casa, mesmo modesta, que se oferece.Um coração pronto a pulsarNa nossa mão!Amigo (recordam-se, vocês aí,Escrupulosos detritos?)Amigo é o contrário de inimigo!Amigo é o erro corrigido,Não o erro perseguido, explorado.É a verdade partilhada, praticada.Amigo é a solidão derrotada!Amigo é uma grande tarefa,Um trabalho sem fim,Um espaço útil, um tempo fértil,Amigo vai ser, é já uma grande festa!Alexandre O'NeillAL
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